T26 Novembro 2017
Dois cafés & a conta

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O segredo do sucesso
"Acima de tudo é conhecer exactamente quem são as nossas clientes."
As feiras são uma escola de vida
"Quem for bem sucedido nas feiras tem condições para triunfar em qualquer lado".
Cândido Correia

Aos 52 anos, Cândido Correia, sabe que "o que interessa não é o tipo de mercado, mas o tipo de consumidora, e que são os designers que têm de se adaptar ao gosto da cliente - e não ao contrário”, conclui o CEO da Givec, um jornalista que por amor virou empresário.

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oi por amor que se tornou empresário. Algures no verão de 1982, quando conheceu Nicole – uma bretã de visita a Barcelos com umas amigas – não podia imaginar as consequências desse coup de foudre. Apaixonaram-se, mas no final das férias ela voltou a Nantes e o namoro teve de continuar à distância, numa época em que não havia nem mails, nem Whatsapp, nem Skype. Iam matando as saudades em longas chamadas telefónicas – gratuitas pois Nicole trabalhava nos PTT o que lhe permitia ligar à borla.

Sempre que podia, Cândido arranjava boleias para França em camiões TIR, que partiam da Areosa, e ia ter com a amada, num tempo em que à míngua de auto-estradas, a viagem demorava três dias.

Em 1985, não aguentou mais e decidiu emigrar. Os primeiros tempos em Nantes foram complicados. Como não conseguia arranjar trabalho, resolveu começar num negócio onde tinha umas luzes e conhecimentos – o dos trapos. Pediu 30 mil francos emprestados ao Crédit Agricole, comprou uma Ford Transit e começou a vender nas feiras, em França, a roupa de que se abastecia nas fábricas de Barcelos.

Andou quatro anos nesta vida, até passar a vender cuecas e meias por junto, em sociedade com um amigo de Toulouse, o Vidal que deu o V a Givec – iniciais de Grupo Industrial Vidal e Cândido.

O momento decisivo foi em meados dos anos 90, quando decidiu dar o salto decisivo na cadeia de valor. Separou-se de Vidal – substituído no capital da Givec pela sua irmã Isabel que estava em Barcelos e dominava o know how da produção têxtil – e imprimiu um novo fôlego ao negócio ao abalançar-se a criar marcas próprias, com identidade e personalidade desenhadas ao pormenor.

Primeiro surgiu a Kalison ( corruptela do nome da filha Clarisse, que em bebé dizia chamar-se Kalisse), depois a Bagoraz (para tamanho grandes) e a Le Cabestan (linha sazonal de beira mar, para aguentar as vendas no verão). No essencial t-shirts de uma linha clássica, feitas a pensar numa mulher madura (mais de 35 anos), urbana e ativa, que privilegia o conforto e a qualidade à moda.

“As feiras são uma escola de vida. Quem for bem sucedido nas feiras tem condições para triunfar em qualquer lado”, afirma Cândido Correia, 52 anos, que escolheu almoçarmos um verdadeiro banquete no restaurante Turismo, com vistas para o Cávado.

Nos dez anos em que andou pelas feiras e a vender cuecas e meias, Cândido aprendeu tudo sobre os consumidores finais e as cadeias de distribuição. E é nesse conhecimento que alicerça o sucesso da Givec, que faz um volume de negócios de 20 milhões de euros, 100% exportados e 100% com marcas próprias, com uma equipa de 55 pessoas que se encarrega da criação, corte, controlo do processo e comercialização – e coloca integralmente a produção em empresas das redondezas. “Nunca fomos à China comprar o que quer que seja”. garante.

“O segredo do nosso sucesso? Acima de tudo é conhecer exactamente quem são as nossas clientes. O produto que apresento é diferente. Não tem nada a ver com o que vende a Zara. Na Givec sabemos que o que interessa não é o tipo de mercado, mas o tipo de consumidora, e que são os designers que têm de se adaptar ao gosto da cliente – e não ao contrário”, conclui Cândido, um jornalista que por amor virou empresário.

Perfil

Filho de Carminda, costureira, e de Florindo, afinador de máquinas, nasceu com sangue têxtil a correr-lhe nas veias, em Barcelos, no ano de 1965. Ainda mal se equilibrava nas pernas quando se mudou para o Porto, onde os pais arranjaram empregos a ganharem mais umas coroas - ela na Fábrica do Ameal, ele na Beta, em S. Mamede. Tinha 18 anos quando debutou como jornalista, na secção desportiva do Primeiro de Janeiro, onde se demorou três anos e foi colega de Álvaro Braga Jr e Manuel Tavares - e integrou, a equipa dos enviados especiais do matutino ao Europeu de França, em 84. Voltaria a França, em 85, mas já como emigrante, deitando âncora em Nantes, onde mantém residência. “Desde 2012, passo seis meses cá e seis meses lá”, resume. Casado com Nicole, a bretã que lhe deu a volta à cabeça e à vida, têm dois filhos: Clarisse, 28 anos, que trabalha na Givec, e Daniel, 22, que está a concluir os estudos em França, na Escola do Comércio.

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