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Ligar pessoas, funcionar em equipa, potenciar capacidades, conjugar processos, dinâmica e complementaridade, são conceitos que debita com a mesma naturalidade e fluidez com que respira. A circularidade não é só um conceito de produção, é também um modelo que faz parte da maneira de ser de Patrícia Ferreira
mais difícil tem sido encontrar os recursos humanos. Queremos ter equipas dinâmicas, que se complementem num processo colaborativo, com confiança e lógica de grupo”, expõe a jovem gestora para explicar a mecânica que faz mover o Valérius Hubb.
Uma postura que se torna evidente com a dinâmica fervilhante e o ambiente tú-cá-tu-lá em que se movem os jovens quadros da estrutura. A comunicação e troca de informações são constantes, e a conversa flui enquanto tira os cafés que leva para a mesa alta que está no centro do espaço Valérius 360, cuja arquitectura circular bem simboliza os propósitos do grupo.
A visão de futuro é outro dos ingredientes-chave na estratégia de fornecer ao mercado de moda produtos que sejam não só a aplicação perfeita da economia circular, mas também uma componente de qualidade, inovação, serviço e rastreabilidade que permitam ao cliente final uma escolha verdadeiramente responsável.
Conjugar todos os factores a partir da matéria-prima, pensar o design circular, são propósitos que estão da essência do hubb. “Temos gente que está apenas concentrada em projectar o futuro. Procuramos as melhores pessoas, entregamos-lhes os projectos e esperamos pelos resultados. São 20 a 30 pessoas que trabalham com toda a autonomia, queremos uma visão não só de agora mas também daqui a 10 anos. Isto é também uma oportunidade para pessoas e organizações mais novas, com valor e visão de futuro”, vinca a gestora, cujo ar fresco e juventude são verdadeiramente enganadores.
Por detrás tem já a experiência de reconversão e recuperação da Érius – uma parte da Valérius, como se vê –, a unidade que o grupo tem em Riba d’Ave, adquirida em 2016 à Filobranca, onde chegou pouco depois. “Foi na Érius que aprendi tudo, do rececionamento da matéria prima até à entrega da mercadoria”. Logo aí a prioridade foi “montar equipas, potenciar as capacidades e qualidades das pessoas”.
Começou pela mudança e rotinas a que estavam agarrados aquelas 200 pessoas, esmagadoramente mulheres. “Estavam de pé e sentámo-las, acreditei que podiam fazer mais e melhor”, e, além do empenho, produtividade, vontade e alegria de todas elas, Patricia ganhou também um grande grupo de amigas e admiradoras. “Quando lá vou é mesmo complicado…”.
É três anos depois que se junta ao coração do grupo, com a missão criar a articulação com o Valérius Hubb: “já está em velocidade de cruzeiro, criamos um interface e equipa de comunicação com clientes, incluindo acompanhamento comercial”.
“Somos uma comunidade, uma espécie de academia onde cabem todas as empresas e organizações que comunguem os valores da sustentabilidade, serviço, qualidade e standards ambientais, numa lógica de escala e complementaridade, de serviço de inovação, não de preço”, enuncia, destacando as vantagens comuns em termos de serviços, de fornecimento/abastecimento de matérias primas, certificação e comercialização.
Uma espécie de chapéu comum com equipas focadas em ´+áreas específicas vcomo qualidade, logística, I&T (ecommerce) ou speed to market. “Os clientes ficam incrédulos quando respondemos numa hora e damos quatro semanas para entrega”, orgulha-se a líder do hubb de moda que conjuga desde tecelagem, confeção, tinturaria e têxtil-lar até artigos office, sacos e embalagens.
“O objectivo é que o produto chegue ao cliente como um selo de emissões e consumo de carbono, com a medição pormenorizada de cada cor e matéria prima, da origem ao processamento, confecção e embalagem, para que o consumidor final possa fazer uma escolha verdadeiramente consciente”. Outro propósito é que até 2030 todos os produtos possam ostentar o selo carbono zero, assegura a gestora para quem tudo assenta na circularidade do funcionamento em equipa.
É que, afinal, isto anda sempre tudo ligado. Até na gestão do grupo Valérius, onde o pai é CEO, a mãe gere o processo produtivo e o irmão assume o projecto 360, tudo em articulação com o hubb de Patrícia.
O ar quase juvenil e a figura frágil enganam redondamente. É uma gestora madura, a jovem que se formou em Economia (FEP) e fez graduação em Moda e Design (em Londres), mas que antes se preparou para ser médica e até chegou a andar em Engenharia Biomédica. A complexidade cria lastro e dá calo, dizem! Com a argúcia que lhe é reconhecida, foi o pai que acabou por a reconduzir da saúde para o caminho do grupo têxtil da família. “Há pessoas que também cuidam da saúde das empresas”, sugeriu à estudante que obtinha as melhores notas para chegar a médica. Um desvio que resultou em cheio, concorda Patrícia que adora viajar e já programou casar e ter filhos a partir do 30. “Está tudo encaminhado”, pois claro!
Dois cafés Tirados na máquina expresso do espaço Valéruis 360, onde decorreu a conversa, já que as regas de proteção sanitária mantêm bares e espaços de restauração de portas fechadas