T35 Setembro 2018
Dois cafés & a conta

T

Um plano delineado
“Queremos ser líderes europeus na produção de tecidos para transportes públicos” afirma Constantino Silva
Um negócio de futuro
A Gierlings Velpor está a desenvolver um novo tecido, 100% poliéster e mais barato, para ser usado nos bancos de autocarros
Constantino Silva

Constantino Silva tem um plano bem definido. O seu desejo é levar a Gierlings Velpor à liderança europeia na produção de tecidos para transportes públicos, mercado onde viu sempre mais futuro do que no vestuário. Nos últimos anos investiu em tecnologia e em parcerias estratégicas para trilhar um caminho que começa agora a dar os seus frutos. Em 2020 quer chegar aos 16 milhões de euros de faturação.

A
A

esmagadora maioria das pessoas pensa 90% nas coisas do passado, 7% nas do presente, só lhes sobrando uns escassos 3% do tempo para se preocuparem com o futuro. Constantino Silva não é desses. Para evitar atrasar-se, não gosta de estar sempre a olhar para trás. E tem-se dado bem com isso.

“Queremos ser líderes europeus na produção de tecidos para transportes públicos”, declara o gestor que sabe o que quer e escolheu almoçarmos na Camposa – que fica perto da fábrica da Gierlings Velpor, onde trabalha há 30 anos – onde fez uma refeição frugal, acompanhando a vitela apenas por vegetais e água.

A ambicionada liderança europeia será o bem sucedido corolário da estratégia delineada há dez anos quando Constantino assumiu a direção geral da empresa, à época controlada pelo grupo Amorim e tinha no vestuário a sua principal atividade.

“O negócio do vestuário está cada vez mais difícil, pois está nas mãos dos grandes grupos que controlam os preços, definidos pelos turcos e asiáticos”, afirma o CEO da Gierlings Velpor.

Para atenuar a exposição à moda, optou por diversificar para outras áreas como a decoração (onde trabalha com grandes cadeias distribuidores como a Designer Guild e a Aldeco), os têxteis técnicos (como, por exemplo, o rolo de pintura que já vale vendas de 700 mil euros) e os transportes públicos.

“Não vi futuro no vestuário, que vai ser sempre a descer”, diz Constantino, explicando a aposta estratégica nos tecidos para transportes púbicos (autocarros, comboios, metro…), área que já pesa quase 50% num volume de negócios que este ano deverá atingir os nove milhões de euros.

Esta aposta implicou investimentos em tecnologia jaquard e estamparia digital, que tornaram a empresa mais versátil e competitiva no mercado em crescimento da mobilidade, e também o estabelecimento de uma parceria com os suíços da Lantal, que há dois anos acabariam por adquirir o controlo da Gierlings Velpor.

“O negócio dos transportes é um negócio de influência – influência junto de quem faz os comboios, de quem os compra e de quem fabrica os bancos”, diz, fundamentando a necessidade da sua empresa estar alinhada (primeiro) e integrada (depois) num grupo tão poderoso como a Lantal Textiles.

Os frutos mais risonhos deste casamento ainda vão ser colhidos pela Gierlings Velpor, que prevê quase duplicar a faturação, chegando aos 16 milhões de euros em 2020, um crescimento que tem como base a decisão da Lantal de concentrar, a partir do próximo ano, na sua unidade de Santo Tirso toda a sua produção de tecidos para os bancos de autocarros, metros e comboios, preparados para resistir a cerca de 100 mil movimentos de sentar e levantar.

“Os transportes são o negócio do futuro”, remata Constantino Silva, um gestor que sabe o que quer e tem sempre os olhos postos no futuro – e por isso está a desenvolver um novo tecido, 100% poliéster, para ser usado nos bancos de autocarros, mais barato e com as mesmas propriedades dos atuais, que têm 30% de lã na sua composição.

Perfil

Nasceu e cresceu em Braga, mas no final do secundário, feito no Liceu Sá de Miranda, foi para o Porto estudar no ISCAP e acabou por deitar âncora na Invicta para todo o sempre. O primeiro emprego (ainda estava a acabar o curso) foi como bancário, mas demorou-se apenas oito meses no Crédito Predial Português, onde trabalhou no Departamento da Informações de Crédito. Não era aquilo que queria - e à época solicitações não faltavam. A escala seguinte foi o escritório portuense da Price Waterhouse, instalado no 13º andar do edificio JN. A auditoria satisfazia-lhe a fome de conhecimento e a preocupação de estar em contínuo processo de aprendizagem. Até que em 1988, os veludos atravessaram-se-lhe no caminho, por vias de um desafio de Artur Soutinho, que conhecera na Efacec (onde o atual CEO da MoreTextile era auditor interno e ele externo). Debutou como responsável da parte administrativa, dois anos volvidos passou a acumular o pelouro financeiro, e em 2009 assumiu a direção geral. Casado com uma professora, tem dois filhos e vive na Maia.

RESTAURANTE
Quinta da Camposa

Rua Central da Camposa 1 409
Folgosa
4425-322 Maia

Partilhar