T31 Abril 2018
Dois cafés & a conta

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Farol de Inovação
"A nossa estratégia é não parar de investir em máquinas que permitam fazer produtos novos e diferentes"
Início na Lusaustri
"Nunca tinha visto um tear, nem uma máquina de estampar…"
Francisco Xavier Leite

Nascido em Guimarães e hoje com 61 anos, Francisco Xavier Leite começou cedo - ainda sem barba na cara - a trabalhar no têxtil. Primeiro como trabalhador de armazém na Lusaustri, depois como administrador da Foncar e, finalmente, já como empresário, na Bordalima. Uma vida cheia de altos e baixos, mas com o olhar sempre no futuro.

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uase todos sabemos que sucesso antes do trabalho só mesmo no dicionário. Mas a vida ensinou a Xavier Leite um pouco mais –  que no capitulo dedicado à letra S o alfabeto não engana: primeiro aparecem o sacrifício e o sofrimento, só depois o sucesso.

“Não há sucesso sem sofrimento”, garante o CEO da Têxteis Penedo, que ainda não tinha barba na cara quando começou a trabalhar. Deu-lhe para ir, numa 6ª feira, a uma entrevista na Lusaustri, que só pode ter corrido muito bem, pois no final disseram-lhe que começava a trabalhar na 2ª feira seguinte.

Em casa, passou o fim de semana a convencer o pai a deixá-lo ir trabalhar, contra a promessa (cumprida, pois chegou a frequentar Economia) de que continuaria a estudar à noite.

Debutou no armazém, a ganhar 600 escudos, salário que foi duplicado logo no mês seguinte – não tardou até levar para casa mais dinheiro que o pai… -, e acabou a braço direito de Alberto Sousa, o homem que mandava na Lusaustri. Sempre a subir.

“Nunca tinha visto um tear, nem uma máquina de estampar… ”, confessa, a propósito do atrevimento que foi ter aceite o desafio para ser administrador delegado da Foncar, no início dos anos 80, com o país intervencionado pelo FMI.

A Foncar era uma grande nau, com 400 trabalhadores, que balouçava à beira do abismo, e ele só percebia de bordados, mas Xavier não se atrapalhou e conseguiu dar a volta à empresa, multiplicando a facturação por dez em pouco mais de três anos, ao apostar numa novidade chamada tactel – que lhe permitiu fornecer a NATO e fazer fatos de treino para a Hummel.

Quando trocou a Foncar pela Bordalima estava pronto para ser empresário. A oportunidade para dar esse salto foi a Penedo, um fornecedor a quem ele comprava quase toda a produção de colchas.

“Era uma empresa bem gerida, mas com duas fragilidades, a exposição excessiva ao monoproduto colchas e ao mercado interno”, recorda Xavier, que logo tratou de virar a empresa para a exportação e de diversificar a gama de produtos.

Entusiasmado pela banca, que o incitava a andar para a frente, pôs em marcha um ambicioso plano de investimento industrial em aumento da capacidade, “uma coisa enorme”, sabotado a meio do caminho pelo balde água fria que foi a declaração de que o país estava de tanga feita pelo então recém empossado primeiro ministro Durão Barroso.

A primeira década deste século foi um período duro e difícil, mas há coisa de seis anos a Penedo já estava com a cabeça bem fora de água e capaz de nadar num mar mais calmo mas não isento de perigos.

“A nível mundial, o consumo estagnou. Sentimos que a procura começou a desacelerar em finais de 2016. A nossa estratégia é simples: não parar de investir em máquinas que nos permitam fazer produtos novos e diferentes, com técnicas mais avançadas para nichos de mercado”, e continuo investimento na inovação,  resume o CEO da Penedo, um farol da inovação na ITV, que entre outras coisas apresenta no seu cartão de visita o cork.a.Tex-yarn e os cortinados com led incorporado que dão luz.

Perfil

Nasceu em Guimarães, sendo o terceiro da meia dúzia de filhos do matrimónio entre uma doméstica e um capitão do exército. Começou a trabalhar, por iniciativa própria, aos 13 anos, como empregado de armazém, na Lusaustri, ainda antes de concluir o Curso Comercial. Viveu uma adolescência preenchida. De dia estava na fábrica, à noite na escola, e ainda arranjava tempo para jogar à bola (foi ponta esquerda nos juvenis e juniores do Vitória e depois, já como sénior, no União Torcatense). Dos bordados saltou para o comando da Foncar e ainda passou pela Bordalima, como diretor comercial, antes de se tornar empresário, na Têxteis Penedo, com o suor do seu trabalho. Vitoriano (como não podia deixar de ser…) tem cinco filhas, com idades que vão dos 40 aos 13 anos.

RESTAURANTE
Novais

Entrada: Pataniscas de bacalhau Prato: Cozido à portuguesa Sobremesa: Leite creme Bebidas: Verde tinto de Gatão (Amarante) água e cafés

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