T30 MARÇO 2018
Dois cafés & a conta

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Estratégia Comercial
"Se entrássemos numa guerra de preços, dentro de quatro a cinco anos a Fateba fecharia as portas."
Presença Internacional
Na carteira de clientes da Fateba o principal mercado é a Holanda, seguido da Alemanha e França. "
António Leite

Com os olhos postos no exterior, António Leite internacionalizou a Fateba ao longo das últimas décadas. Agora, já quase a chegar à idade da reforma não tem planos de mudar de estratégia e continua empenhado em encontrar novos mercados.

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o nosso país, a duração média da vida de trabalho anda nos 36,8 anos, um pouco superior à média comunitária (35,4 anos), mas bastante inferior à de António Leite que já leva mais 43 anos de trabalho (dos quais 40 na Fateba) mas não planeia descer os estores e ir para casa  – apesar de em dezembro atingir a idade da reforma.

“Gosto de trabalhar, gosto de viajar, estou de boa saúde, não quero reformar-me”, declara este gestor, que com 20 e poucos anos, após as estroinices próprias de juventude, fez do trabalho um ato de amor e não um mero casamento de conveniência.

As relações do pai, Felisberto Ribeiro Leite, advogado com farta clientela e boa reputação na indústria têxtil, abriram-lhe as portas do mundo dos trapos, onde após dois namoros episódicos (o última das quais como sócio da Guitex, agente da Tesco) casou-se para a vida com a Fateba, onde ainda se cruzou com Narciso Pereira Mendes, que em 1947 fundara esta empresa que produz toalhas de mesa e panos de cozinha.

A aposta estratégica nos mercados externos foi a primeira impressão digital que António Leite deixou na Fateba, que exporta a esmagadora maioria das suas vendas, que em 2017 andaram nos 4,5 milhões de euros.

O principal mercado é a Holanda – onde António mantém há 40 anos o seu cliente número 1, uma cadeia de supermercados que no entretanto mudou três vezes de dono mas se mantém fiel ao seu fornecedor português de têxteis de mesa – seguido da Alemanha e França. Mas a Espanha está a crescer, a reboque das encomendas de dois gigantes (Zara Home e El Corte Inglés), que convivem na carteira de clientes da Fateba com a Sur La Table, o Marmaxx Group ou a Williams-Sonoma.

“A Zara Home comprava muito na India, mas nos últimos dois anos tem estacionado por aqui. O que se compreende pois a diferença de preço, que já não é assim tão grande, é amplamente compensada pelas vantagens da proximidade”, conta António Leite, que escolheu almoçarmos no Babachris, nascido da paixão entre a portuguesa Bárbara e o chef franco-espanhol Christian que deflagrou quando ambos trabalham num restaurante com em Les Trois Vallées, nos Alpes franceses.

Diversificar a geografia das exportações (80% Europa e 10% para EUA) é uma das preocupações de António Leite, que está de olho em novos mercados (Polónia, Grécia, Bósnia, Argentina, Chile …) e empenhado em aumentar as margens através da eliminação de intermediários.

“Queremos evitar armazenistas e grossistas e chegar cada vez mais chegar a quem vende ao consumidor final”, explica o gestor da Fateba, ressalvando haver mercados, como os escandinavos, em que é obrigatório trabalhar com um agente.

Ganhar novos mercados e atenuar a dependência de intermediários, bem como equilibrar o peso na faturação das toalhas de mesa e dos panos de cozinha são armas na luta para a Fateba se manter competitiva sem entrar numa letal guerra de preços.

“Se entrássemos numa guerra de preços, dentro de quatro a cinco anos a Fateba fecharia as portas. Não teríamos a mínima hipótese. Não temos preços para as grandes superfícies. Temos de nos diferenciar pela qualidade”, conclui António Leite, que em dezembro atinge a idade da reforma e em janeiro de 2019 vai continuar a trabalhar como dantes – só ainda não sabe ao certo aonde e a fazer o quê.

Perfil

Nasceu em Lisboa, onde estava no 25 de Abril, mas a capital passou apenas estas duas vezes como um cometa pela vida deste vimaranense dos quatro costados. Nasceu em Lisboa porque o pai estava lá a acabar o curso de Direito, após se ter apaixonado, em Castelo Branco (onde fazia o serviço militar na arma da Cavalaria), por uma alentejana de Reguengos de Monsaraz. E em 1974, depois ter conseguido ver-se livre da tropa (ao cabo de seis meses entre Caldas e Tavira e já com a especialidade de atirador de infantaria) estava em Lisboa oficialmente concluir o 7º ano do liceu - mas na verdade a levar a boa e boémia vida de estudante. Quando o pai pôs fim a estes devaneios do seu filho único, voltou a Guimarães, onde deitou âncora na têxtil. Casado com Gabriela, que gere a Casa do Campo (um solar do século XVII em Celorico de Basto), tem dois filhos: António, 33 anos, que é comercial na Mundotêxtil, e Manuel, 30 anos, que fez Gestão Hoteleira e está na Casa da Calçada, em Amarante

RESTAURANTE
Le Babachris

Entrada: Sopa de abóbora e castanhas Prato: Lombo alto de vitela cozido a baixa temperatura em vinho tinto Sobremesa: Salada de frutas Bebidas: Vale da Capucha Fóssil (branco), água e cafés

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