Jorge Fiel
Ainda lhe passou pela cabeça estudar Arquitetura, mas não tardou a perceber que lhe competia tratar do legado da família - a LMA
lexandra não degenerou. Sai aos seus. É industrial (“Prefiro industrial a empresária. Um industrial produz alguma coisa”) pois é o fruto da confluência de duas famílias de industriais – os Abreu de Vila das Aves, e os Araújo, de Pevidém. Até a rebeldia no percurso escolar tem antecedentes. A mãe, Lina, foi posta fora da FEP por ser capitalista e ir de Alfa Romeu para a faculdade. E o pai, Leandro, começou a trabalhar aos 16 anos, após ter sido expulso da escola, em Braga, por ter dado uma coça a um professor.
“Adoro ser mandona. Eu é que sei!”, graceja, antes de passar a explicar o seu conceito de liderança: “Ser líder não é estar sentada a gerir a minha secretária. Gosto de estar por dentro das coisas. Sei o nome de todos os nossos funcionários, o que fazem e quem são as suas famílias”.
Almoçamos, tal como ela faz todos os dias da semana (só não partilhou a refeição com pais e avô, porque chegamos já depois das duas, pois atrasamo-nos na conversa na LMA), na sala reservada à família na cantina da Fibrolite, a fábrica de fibrocimento fundada pelo avô Joaquim Ferreira Abreu, um self made man, um serralheiro com a 4ª classe, que ergueu um grupo empresarial de materiais de construção a partir de um alvará comprado com dinheiro emprestado pelo Conde de Riba d’Ave, de quem foi motorista.
“O meu avô ensinou-me a nunca dar nada por adquirido. Existe futuro mas só se trabalharmos muito e todos os dias”, lembra Alexandra, que também aprendeu com o avô Joaquim a cultivar boas relações com toda a gente: “Em casa do conde de Riba d’Ave quem comia as melhores coxinhas de frango era ele, o motorista, porque se dava bem com a cozinheira”.
Ainda lhe passou pela cabeça estudar Arquitetura, mas não tardou a perceber que lhe competia tratar do legado da família – a LMA, criada em 1995 pelo pai e que leva na razão social as iniciais do seu nome (Leandro Manuel Araújo). “Sabia que ia acabar por vir para aqui. Era inevitável. Não podemos fugir ao nosso destino”. diz.
Os Araújos, de Pevidém, estão nos trapos já há muitas gerações (“o meu trisavô já era têxtil”). O pai de Alexandra, que está na indústria desde os 16 anos (“Não há nada da têxtil que ele não saiba”), seguiu o seu próprio caminho em 1995, na sequência de desavenças familiares.
“Teve visão. Não havia ninguém a fazer malhas para desporto. Arrancamos na cave da fábrica do meu avô na Vila das Aves. Em cima fabricava-se fibrocimento. Em baixo tricotavam-se malhas. Éramos meia dúzia. O meu pai era o comercial e diretor de produção. A minha mãe, a Dona Lina, fazia tudo, era a diretora financeira, escriturária e a secção de pessoal. E eu, que tinha 14 a 15 anos, tratava do arquivo”, recorda.
Após três anos a trabalhar para o mercado interno, a LMA conquistou a Nike e passou a pôr as fichas todas na exportação. “A Nike exigia todas as certificações de qualidade. Ajudou-nos a crescer e ensinou-nos a trabalhar”.
Em 2004, quando perdeu a Nike e Adidas, a LMA andou de lado. Mas logo voltou a por-se de pé. “Até aí trabalhámos para meia dúzia de clientes. Passamos a trabalhar para mil. A necessidade aguça o engenho”, explica Alexandra, a gestora da empresa portuguesa que ganha mais prémios na ISPO – “O segredo? A equipa. O departamento de i&d somos todos nós.”
Como estavam à espera de um rapaz, o dia 16 de abril de 1981, em que Alexandra nasceu na Ordem da Trindade, não foi o mais feliz da vida dos pais - que resolveram não insistir e ela ficou filha única. No entretanto, Xana tem-nos compensado da expectativa frustrada. Teve a primeira mota com quatro anos, Aos 11 anos foi apanhada a estacionar o Mercedes S do avô no centro de Santo Tirso. Nas férias grandes ajudava a carregar a urdideira com bobinas de fios. “Sempre fui uma Maria Rapaz. Nunca fiz vestidos” - afirma e o cadastro escolar concorda. No secundário, feito no Instituto de Sezim (Guimarães) estava sempre de castigo. E no 3º ano de Gestão da Portucalense pegou-se com o professor de Micro-economia, que era comunista, saiu da aula e nunca lá pôs os pés. Alexandra é casada com um dos filhos de José Maria Pinho, de quem tem uma filha, Nina, nove anos, que quer ser designer têxtil
Avenida de Poldrões 10
Vila das Aves