T72 - Maio 2022
Dois cafés & a conta

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Um bom recomeço
Da Goucam Group, uma empresa têxtil que fabrica fatos para o segmento médio-alto
José Carlos Castanheira
Não alinha em euforias com o súbito crescimento pós-pandemia
José Carlos Castanheira

A fabricar sobretudo fatos para o segmento médio-alto, José Carlos Castanheira não alinha em euforias com o súbito crescimento pós-pandemia e mostra-se cauteloso face aos tempos de incerteza e volatilidade dos mercados que impactam sobre o setor.

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span style="font-weight: 400;">“O recomeço está a ser muito bom. Começaram até a aparecer com encomendas de 200 mil fatos, mas penso que é temporário, muitas fábricas acabaram por fechar com a pandemia e os clientes estão agora a repor mercados”, expõe o CEO do Goucam Group. 

Com a actividade distribuída por três polos – Viseu, Arganil e Castelo Branco -, diz que, de momento, “o problema é não termos capacidade de resposta”, mas está convencido de que a procura não vai durar muito. “Esta euforia é temporária, com a inflação a trepar, as vendas vão cair a seguir às férias”, estima o empresário, que enfrenta também o problema da escassez de mão-de-obra. 

“Estamos a admitir gente, e se aqui em Viseu e em Castelo Branco vamos conseguindo, em Arganil temos muitas dificuldades”. Mesmo assim, explica, “são trabalhadores que têm que passar por um processo de formação interna – temos contratos específicos com o Modatex –, mas vivemos tempos incertos e não sabemos o que a empresa vai precisar quando estiverem em condições de produzir”. 

Reconhece que há, também, o problema da atratividade e dos salários, mas essa é uma questão que só por si a empresa não pode resolver. “No início do ano aumentamos toda a gente, mas logo a seguiu veio o preço da gasolina e comeu-lhes tudo, vamos ter que os aumentar outra vez. Mas temos também situações, principalmente quadros intermédios, gente que merece melhores salários, em que as pessoas nos pedem para não aumentar já que acabam por ficar prejudicadas com os aumentos nos impostos”. 

É também por estas questões que, numa área onde a competição assenta em boa parte no preço, defende a necessidade de uma estratégia alargada e abrangente. “É aqui que está a confecção no país, já não é no norte. Neste tipo de artigo, roupa de verdade, e com os lanifícios, temos aqui um cluster. O que faz falta é concentrar fábricas, ter posição de mercado, para que não continue o que tem acontecido nos últimos 20 anos em que o comércio anda a comer a indústria”. E para o CEO da Goucam, esta “não é uma questão de fundos ou de apoios, é perceber que antes de ser negócio financeiro tem que ser negócio industrial, e penso que essa concentração vai ter que acontecer mais cedo do que se pensava”, regista. 

Entretanto, a Goucam vai avançando a um ritmo de fabrico de mil fatos por dia para procurar dar resposta à avalancha de encomendas. “As vendas de fatos dispararam após a pandemia, as marcas e lojas estavam sem stocks”, explica o CEO, dando conta de que é de Espanha – Máximo Dutti, Carolina Herrera, Purificacion Garcia – que continua a vir o grosso cos clientes. E chegam agora, e cada vez mais, também da Alemanha, França, Suíça ou EUA. 

Com mais de 400 trabalhadores e a exportar a 100%, o grupo espera voltar este ano aos mais de 16 milhões de euros que faturou 2019. Tem a unidade de Arganil dedicada a fazer casacões para a Hugo Boss e uma outra a trabalhar em blusões para a Lacoste, e José Carlos Castanheira conta que até apareceram dois clientes que queriam reservar toda a produção até ao final do ano, “o problema é que não termos capacidade de resposta”, conclui.

Perfil

José Carlos Castanheira
CEO do Goucam Group

Cresceu e fez toda a formação na Holanda, para onde emigrou com os pais, mas casou em Portugal, o que foi aproveitado pelo sogro para o desafiar a tomar conta dos destinos da pequena confecção de que era sócio em Viseu. Estávamos em 1987 e era o princípio de um novo rumo para a Gouveia & Campos, nascida uma década antes fruto da conjugação de esforços entre o alfaiate Agostinho Gouveia (o sogro) e o atelier de Rosa Campos. Fundiram-se os apelidos e emergiu um grupo que não tem parado de crescer. Do modesto espaço inicial aos três polos industriais, os casacões de senhora aos fatos que as mais prestigiadas marcas distribuem por todo o mundo.

RESTAURANTE
Goucam Group

Reta do Caçador, Rio de Loba 

3505-557 Viseu

Três cafés e água mineral, para a conversa que teve lugar no espaço do showroom da empresa

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