T63 - Maio/Junho 2021
Dois cafés & a conta

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Atrás da especialização técnica
“Nos últimos cinco anos já ultrapassa seguramente o milhão de euros"
A força da continuidade
A continuidade tem uma marca forte no grupo têxtil nascido à 65 anos em Barcelos
António Falcão

Não é fácil dominar a nomenclatura no grupo António Falcão, já que ao apelido de família todos juntam também os nomes António e Alexandre na respectiva identificação. Se aos 28 anos António Manuel Falcão tem sido o rosto da terceira geração na gestão do grupo, junta-se-lhe agora também o irmão Alexandre Manuel Falcão, que aos 23 anos se propõe reforçar a perspectiva da geração Z na Têxtil António Falcão

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ão é fácil dominar a nomenclatura no grupo António Falcão, já que ao apelido de família todos juntam também os nomes António e Alexandre na respectiva identificação. Daí perguntarmos ao António Falcão mais novo, se o Júnior de que nos socorremos faz parte do nome ou é apenas usado para diferenciação? “Não faz parte do nome, mas acaba por não simplificar assim tanto, já que também o meu pai era Júnior em relação ao meu avô, que por sua vez também era filho de António Falcão”.

A continuidade, está visto, tem uma marca forte no grupo têxtil nascido à 65 anos em Barcelos. E se aos 28 anos António Manuel Falcão tem sido o rosto da terceira geração na gestão do grupo, junta-se-lhe agora também o irmão Alexandre Manuel Falcão, que aos 23 anos se propõe reforçar a perspectiva da geração Z na Têxtil António Falcão.

António e Alexandre falam praticamente a uma só voz, embora a estrutura da empresa apresente o primeiro como CEO da Fitexar e o segundo como administrador da Têxtil António Falcão. Convivem ambas debaixo dos mesmos tetos e ambas tiveram a mesma gestação, a partir do crescimento e da necessidade de a António Falcão verticalizar a sua produção. A separação de negócios fez-se recentemente, ditada por razões funcionais. Foi a partir daí que a Têxtil António Falcão passou a dedicar-se apenas ao fabrico de produto acabado, cabendo à Fitexar a produção de fios, que fornece não só à empresa-mãe mas também a muitas outras, em Portugal e na Europa.

“A Fitexar foi a primeira empresa na Europa a fazer extrusão de polímero. Hoje, além da produção de fios sintéticos estamos cada vez mais especializados nos fios de alta performance, sustentáveis, biológicos e biodegradáveis”, expõe António Falcão, explicando que de forma direta ou indireta a Fitexar acaba por exportar praticamente todo o fio que produz.

“O que fazermos são fios técnicos de grande valor acrescentado para áreas como o sector automóvel, seamless, saúde, desporto, fios sustentáveis e biológicos. Mais de 20% da produção vai para exportação direta, mas como o made in Portugal tem hoje muita força, já vale mais que Itália, acaba depois por ir tudo para exportação”.

E se há 65 anos o avô começou por adquirir uma meia dúzia de máquinas para o fabrico de peúgas de algodão, rapidamente evoluiu para o fabrico de collants, produto em que a António Falcão logo se especializou. A marca própria Maggiolli é a estrela da companhia, mas a empresa fabrica também para múltiplos clientes, entre os quais estão grandes marcas europeias.

“Internamente os nossos maiores clientes são a grande distribuição, mas as exportações já respondem por mais de 70% da nossa produção”, regista Alexandre Falcão, explicando que para lá dos collants e peúgas, a empresa está agora também focada na produção de roupas interiores seamless para senhora.

Um traço comum às duas áreas de negócio é a constante necessidade de renovação tecnológica. “Tivemos que ir atrás da especialização técnica”, diz António, lembrando o constante investimento em novas máquinas para o fabrico de fios cobertos. “Nos últimos cinco anos já ultrapassa seguramente o milhão de euros”, aponta o CEO da Fitexar, lembrando as 20 máquinas para recobertura convencional e as 10 destinadas à recobertura por ar recentemente instaladas.

Da mesma forma a António Falcão acaba de incorporar nas últimas semana 16 novas máquinas, que vêm modernizar e tornar mais eficientes as áreas de tricotagem, confecção e embalamento. “A renovação é contínua, assim como a necessidade de formação de técnicos”, avança o administrador, apontado que, tanto a reconversão do parque – “com cerca de 200 máquinas” – como a formação dos técnicos, vão no sentido de “produzir com mais qualidade e eficiência, sobretudo com fios sustentáveis, e no caminho da digitalização da produção”.

Um caminho que leva também à racionalização do consumo de energia – desde 2015 foram instalados 2.100 painéis fotovoltaicos – e do quadro de pessoal, que há dez anos era de 230 e anda agora pelos 160 colaboradores

Perfil

António vem da banca de investimento, andou pela Citty de Londres, onde fez o mestrado que se seguiu ao curso de Gestão (Nova, Lisboa), e pensava já num “banco boutique” quando se deixou agarrar pelos fios da empresa mesmo na altura certa. Ou seja, quando esta avançava para a reestruturação. Já Alexandre foi como que atirado para os braços da António Falcão pela pandemia. Depois da licenciatura em Economia (Católica Lisboa), aguardava-o o mestrado em Madrid. Bloqueado pela Covid-19, aceitou o desafio, depressa ganhou o gosto à empresa e garante já que é para voltar no final do mestrado. Ambos seguem as pisadas do pai – agora Chairman do grupo – que até chegou a advogar antes de igualmente ter sucedido ao seu progenitor na liderança da António Falcão

RESTAURANTE
Têxtil António Falcão
Rua Henrique Correia, 3
4750-164 Arcozelo-Barcelos

Três cafés na sala de reuniões do grupo Falcão. Com o complemento de fruta fresca da produção da Quinta de Crestres, propriedade da família Falcão

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