T61 - Fevereiro 2021
Dois cafés & a conta

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Ecologia é o futuro
Na calma de 2020, produziram novos produtos com certificações de sustentabilidade “dificílimas de obter”
A qualidade paga-se
“O que vendemos é marca própria, um produto de nicho, e os nossos retalhistas têm que aceitar um preço de referência"
Rui Faria

O arranque não foi a coisa mais fácil, mas hoje Rui Faria pode dizer a plenos pulmões que valeu a pena. A sua marca de meias é referência incontornável quando se trata dos escalões superiores da moda, de produtos de alta performance, técnica e funcional.

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o início foi muito difícil, era complicado conseguir uma entrevista, muitas encomendas foram pela persistência”, relembra, para ilustrar a completa mudança que faz com que hoje a Dune Bleue seja procurada por clientes de todo o mundo quando querem produto de grande qualidade e exigência, mas também o prestígio que identifica o têxtil made in Portugal.

“Agora, quando dizemos que é Portugal, as pessoas param para nos ouvir”, diz, avançando com exemplos de clientes que vêm das mais diversas geografias para lhes baterem à porta à procura de meias de alta performance. E desfia exemplos como o de um hospital privado dos Emirados Árabes Unidos, que veio à Europa à procura de equipamentos: “Pediram a uma consultora francesa um estudo sobre produtores e vieram-nos bater à porta. Já os fornecemos há mais de cinco anos”.

Mas não é caso único. Também uma empresa de turismo da Noruega à procura de meias para temperaturas abaixo de 20 graus negativos; outra a pedir o desenvolvimento de meias especificas para o trabalho nas plataformas de extração de petróleo; para condutores de tratores; ou uma linha para militares que é hoje usada pela polícia francesa.

“Pediram-nos também umas para o exército de Israel, que resistissem ao odor durante uma semana. Desenvolvemos a meia e os testes provaram que eram capazes de resistir durante 12 dias e com calor extremo, mas acabamos por não fornecer porque acharam o preço muito alto”, conta, enquanto mostra as cerca de 300 referências que acumula no showroom da empresa.

E o preço é, de facto, uma questão central na Dune Bleue. “O que vendemos é uma marca própria, temos um produto de nicho, não de massas, e os nossos retalhistas têm que aceitar um preço de referência para não haver distorções de mercado”, explica. Na Europa, um par de meias da Dune Bleue pode custar entre 25 e 99 euros, e “em muitos mercados as pessoas já exigem a marca sem olhar ao preço”, orgulha-se Rui Faria.

Mas é claro que estão também na luta do preço. Já não com produto made in Portugal, mas na China ou Turquia. “Os chineses, principalmente, adaptam-se muito rápido à evolução tecnológica”, relata, e por isso é preciso desenvolver constantemente novos produtos, cada vez mais técnicos e inovadores.

Foi nisso que aproveitaram para investir em 2020, com a acalmia na atividade e uma quebra de 20%, resultante sobretudo dos bloqueios no destino com os confinamentos. Novos produtos com certificações de sustentabilidade – “dificílimas de obter” -, à base de algodão orgânico, fibras de cânhamo, ou materiais 77% recicláveis, que em breve serão lançados no mercado.

Meias de grande conforto, sem costuras, resistentes e duráveis, que a Dune Bleue cria e desenvolve com uma equipa coesa de nove pessoas, a maioria com licenciatura, que vende um pouco por toda a Europa – “exceto Espanha e Itália, que procuram preço” –, mas também de Israel e Quatar aos EUA e Canadá.

E porquê Dune Bleue? “Em 2005, quando lançamos a marca, a grande moda era a linha e cores de marinheiro. Daí a imagem da duna e a barraquinha de praia, num estilo muito francês”, conta Rui, que faz questão de frisar a importância do conhecimento técnico que trouxe dos seis anos de trabalho na Riopele.

Perfil

Os trapos fazem parte do seu ADN desde que, findo o serviço militar, cruzou os portões da Riopele para o seu primeiro emprego. “Devo tudo a esses seis anos, foi a minha grande faculdade”, diz, agradecido e feliz por ter podido percorrer todas as áreas da produção, o que lhe permitiu perceber ao pormenor como se cozem os fios da têxtil. Com o primeiro casamento, com Rosa Maria, saltou para o agenciamento, antes da aventura de criar uma marca de meias de qualidade diferenciadora. O desafio veio de Albert Pupineau, que lhe foi apresentado por um cliente francês. Mais que sócios, hoje são grandes amigos e a Dune Bleue uma referência mundial para as meias técnicas e moda de segmentos superiores. Para fugir ao cheiro das peúgas, embrenha-se na natureza com os amigos em longos trilhos de BTT, boa parte das vezes escolhidos em função da meta. Ou seja, o restaurante que está no final do percurso

RESTAURANTE
Cantina da Dune Bleue
Rua dos Pavilhões nº 3
4760-443 Cavalões – Vila Nova de Famalicão

Dois cafés e meia dúzia de Pettits Galettes (bolachas) na cantina da Dune Bleue, com as cautelas e distanciamento recomendadas pelas medidas de proteção e combate à Covid-19. Os restaurantes estão fechados e, como tal, interditas também as conversas à mesa

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