T52 - Abril 20
Dois cafés & a conta

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Apostar no local
"Não deixem as empresas expostas à concorrência direta com a Ásia, para a Europa não ficar dependente"
A equipa é o segredo
A Fradelsport apoia-se num plantel com 50 colaboradores e faturou no ano passado à volta de 2,1 milhões, 80% em exportação
Paulo Reis

Foi uma das primeiras empresas a conseguir certificar a produção de máscaras, e a aposta em equipamentos médicos fe-la para não ter de recorrer ao lay off. No entanto, para Paulo Reis, Administrador da Fradelsport, os equipamentos médicos e de proteção individual vão ser, “pelo menos durante um a dois anos, negócio garantido”.

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em de perto nem de longe alguma vez pensei que o têxtil iria ser a minha vida”, dispara Pedro Reis, que tão rápido adivinhou que a produção e venda a venda de equipamentos desportivos ia parar como tão rápido avançou para as necessidades do momento: Batas, cover all, cógulas, manguitos ou cobre-botas. Depressa começaram a chegar os pedidos de fornecedores para o Serviço Nacional de Saúde e Fradelsport foi logo uma das primeiras empresas a conseguir certificar a produção de máscaras.“Houve uma redução drástica de encomendas e não foi difícil chegar a este a caminho, o difícil mesmo foi conseguir as matérias-primas”, sintetiza o empresário.

Foi com a ideia de se tornar contabilista que Paulo Reis cresceu e avançou na formação. “Nasci para ser contabilista”, diz com a certeza de quem nunca teve dúvidas, o homem que cresceu com a imagem da permanente alternância entre os turnos do pai, Mário, e a mãe, Maria Rolinda, ambos operários têxteis. Como tinha as tardes livres, o pai foi-se dedicando a apoiar o clube da terra como dirigente, acabando por abrir uma loja de venda de equipamentos desportivos.

Nascia assim a Fradelsport, que além das botas, calções e camisolas, vendia também um artigo menos comum: as redes de baliza. “Eram todas feitas à mão, um trabalho demorado e já então raro. O fornecedor, que se queria reformar, propôs-se ensinar o meu pai para ele continuar com o negócio”.

Paulo estava longe de o imaginar, mas começava aí o destino que o havia de afastar da meta da contabilidade. “À noite e depois das aulas eu ajudava, o meu pai dava-me 100 escudos por quilo” e uma baliza de futebol eram sempre uns oito a nove quilos. A par das balizas e redes para todas as modalidades, começaram a aparecer também pedidos maiores, para as vedações. “Era negócio, mas durava…”, recorda.

E das balizas locais, a fama e a procura foram-se alargando, e com elas o negócio. Mas o curso de Gestão Industrial e de Produção leva Paulo para a Guarda. E ao segundo ano a família pede-lhe que volte a casa e tome conta do negócio. “Venho, mas vou lá fazer os testes”,  disse, mantendo a convicção de acabar o curso, mas depressa viu que “fazia sempre mais negócios que cadeiras”.

E não passaram dois anos até que começou também a produzir os equipamentos. Comprava os tecidos, mandava cortar, estampar e entregava para fazer. “Por causa das redes, remeti um fax para vários agentes desportivos e atrás das redes começaram a vir os equipamentos”, conta. Contratou as primeiras costureiras e rapidamente tinha confeção a trabalhar a 100%. Também por cauda das redes já exportava para Angola, Suíça, França e Espanha, um negócio que se foi multiplicando.

Com departamento e design e conceção de produto, a Fradelsport apoia-se num plantel com 50 colaboradores e faturou no ano passado à volta de 2,1 milhões, 80% em exportação. Através da conhecida marca Macron veste equipas como o Sporting ou a Lazio de Roma, mas além do futebol está também presente no Rugby – equipando as selecções da escócia e várias equipas de frança e de Portugal, entre outras – e no ciclismo, fundamentalmente no mercado espanhol.

A aposta continua a ser na produção de artigos desportivos, prestando serviços em impressão, sublimação, bordados, transferes e confecção, “com a filosofia de continuar a desenvolver projectos consistentes para grandes marcas”.

Os equipamentos médicos “foi para não ir para o lay off”, diz Paulo Reis. Mas acredita que “pelo menos durante um a dois anos vai ser negócio garantido”. Quanto ao futuro, “depende dos políticos”, que têm que criar regras que imponham requisitos de produção e de qualidade para “não deixarem as empresas expostas à concorrência direta com a Ásia se quiserem que a Europa não volte a ser apanhada nesta situação de dependência”.

Perfil

Segundo filho de um casal de operários têxteis, nasceu em Fradelos, Famalicão, onde cresceu “para ser contabilista”. Depois da primária, matriculou-se com essa ideia na escola profissional Forave e dai seguiu para o curso de Gestão Industrial e de Produção no Politécnico da Guarda. A vida, no entanto, trocou-lhe as voltas, e após o segundo ano a família pede-lhe que fique por casa para tomar conta do negócio de venda de material desportivo que os pais tinham montado nas horas livres do trabalho por turnos. “Venho mas vou lá fazer os testes”, foi o compromisso que assumiu, mas depressa o negócio lhe tomou conta da vida. “Acabei por fazer bem mais negócios que cadeiras”, confessa. É casado com Maria Bernardete - que já trabalhava no têxtil é agora a Diretora de Planeamento da Fradelsport – e têm dois filhos. Aos 10 anos, o Simão tem como ideal de vida ajudar a família e jura que quer trabalhar com o pai, enquanto a irmã Mariana, 15 anos, se aplica nos estudos com a o objectivo de concluir o curso de medicina.

RESTAURANTE
Desta vez sem ementa

Com distância social e fora do horário de refeições, cumprindo com as regras e recomendações as autoridades de saúde em estado de emergência

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