T45 Julho & Agosto 19
Dois cafés & a conta

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Clientes de renome
José Avillez, Henrique Sá Pessoa e Pedro Lemos vestem jalecas da Prochef
Sem medo do risco
“Há alturas na vida em que é preciso arriscar”, afirma sobre o seu percurso de vida
Orquídea Silva

Orquídea Silva, a CEO da Prochef, é uma fura vidas. Já trabalhou com desengordurantes para a cozinha, produtos informáticos ou até no mercado publicitário. Agora dirige uma empresa de sucesso, especializada em workwear, que veste os principais chefs portugueses e já tem planos definidos de expansão.

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Orquídea é aquele tipo de pessoas que não faz grandes planos para a vida – para não atrapalhar os planos que a vida tem para ela. Dito por outras palavras, é uma fura vidas, uma mulher dos sete instrumentos, que trabalhou em publicidade, dirigiu num centro de reparação de produtos informáticos e teve uma loja de decoração de interiores, até que, no dealbar deste século, se virou para a cozinha – primeiro, desengordurando, tirando a sujidade e o queimado dos instrumentos (com a empresa Fat Tank), depois fornecendo fardamentos adequados aos operadores, chefs e restante pessoal (Prochef).

O clique foi em 2001, mas o projeto Fat Tank já existia desde Joanesburgo, quando um grupo de cinco amigos, de que a Orquidea fazia parte, desenvolveu uma solução completa (o tanque e os produtos químicos) de limpeza e desinfecção de utensílios problemáticos em cozinhas profissionais.

Vendeu tudo. Vendeu a casa. Vendeu a loja de decoração de interiores Misca que tinha em Vila do Conde. Tudo. E meteu a cave no projeto Fat Tank. O primeiro contentor de máquinas veio da África do Sul, mas os tanques seguintes já começaram a ser fabricados na Maia. Só os produtos químicos (“biodegradáveis”, esclarece) continuam a ser importados.

“Há alturas na vida em que é preciso arriscar”, explica Orquídea, que escolheu almoçarmos no Cantina 32, onde os empregados de mesa usam um avental Prochef e o chef Bruno (que pontifica numa cozinha equipada com um Fat Tank) veste uma jaleca Prochef – sendo que a mulher dele, também chef, é agenciada pela Prochef Agency.

Com 420 máquinas espalhadas por restaurantes, hotéis e caterings de todo o Portugal continental e ilhas, o Fat Tank é um negócio maduro (cada cliente paga um aluguer pela máquina, que é assistida e reabastecida mensalmente, bem como trocada de meio em meio ano) e foi a barriga onde nasceu a Prochef.

“Comecei a perceber que os chefs usavam fardas antiquadas e havia ali uma boa oportunidade de negócio”, recorda Orquídea que herdou da mãe, que era costureira, o olho e a mão para as questões de vestuário. ”Era a minha mãe que nos fazia as roupas e me ensinou a cortar”, conta.

Começou há uma dúzia de anos e nunca mais parou. O primeiro cliente foi o chef Miguel (atualmente no Turismo em Barcelos, na altura estava no forte de Vila do Conde). Hoje, a Prochef fornece uma constelação de estrelas da cozinha, onde constam José Avillez, Henrique Sá Pessoa, Pedro Lemos, Vítor Matos, Olivier e Marco Gomes, entre outros,

Com uma pequena confecção em Vila do Conde (mais três subcontratadas que trabalham para ela a feitio), a Prochef fornece todo o tipo de fardamento, da jaleca aos sapatos, passando pelas calças. Todos os anos apresenta duas coleções. A preocupação número um é aliar conforto, qualidade, estética e funcionalidade, usando tecidos finos e leves (“na cozinha está sempre calor”), amigos do ambiente, com propriedades antifogo e antibacterianas.

“Tudo quanto é Prochef é 100% made in Portugal”, garante a líder de um grupo que fechou 2018 com um volume de negócios de 1,2 milhões de euros – e espera crescer 30% este ano.

Perfil

A mais nova dos três filhos do casamento entre uma costureira e um carpinteiro da Póvoa de Varzim, emigrados na África do Sul, nasceu em Joanesburgo onde viveu até aos 27 anos. No final do secundário, contra a vontade do pai, arranjou logo um emprego numa agência de publicidade, mas não arrumou os livros na gaveta - como estudante/trabalhadora fez, à noite, o curso de Small Business Management, na University of the Witwatersrand. De dia, ganhava a vida e experiência prática numa série de disciplinas que lhe viriam a ser de inestimável utilidade - foi comercial, media buyer, relações públicas e tratou da imagem dos clientes. Tinha 27 anos, uma filha de colo e falava um português estropiado quando em 1993, a situação negra que a sua África do Sul natal atravessava a decidiu a deitar âncora na Póvoa, onde recomeçou tudo, quase a partir do zero. Divorciada, tem dois filhos, Natacha, 28 anos, licenciada em Design (ESAD) que trabalha com ela na Prochef, e Pedro, 18 anos, quer ainda estuda - e quer ser DJ.

RESTAURANTE
Cantina 32
Rua das Flores 32
4050-262 Porto

Entrada: Manteiga de banana com flor de sal, azeitona e pão Pratos: Tataki de atum com sementes de sésamo, Mozzarella DOP com creme frio de tomate, azeite e manjericão, Portobelo com queijo de cabra caramelizado, barriga fumada e compota de pimenta Bebidas: Dois copos de Alvarinho (Quinta de Santiago) e um café

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