T55 - Julho/Agosto 2020
Dois cafés & a conta

António Moreira Gonçalves

Aposta sustentável
“O eco-friendly é uma questão que não é levantada tanto como gostaria, no Norte da Europa está mais desenvolvida”
Rodeados dos melhores
"Percebemos que em Portugal conseguíamos encontrar parceiros que fazem o melhor em cada um dos sectores"
Joana Correia

“O consumidor final está mais exigente, há uma maior franja que não se importa de pagar mais se tiver mais garantias", garante Joana Correia, responsável pelo desenvolvimento de produto na Rio Sul

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inda petiz, Joana já aprendia a olhar para uma peça com os olhos de um profissional. Quando tinha oito anos, os pais, Maria da Conceição e José Fernando, criaram a Rio Sul no sótão de casa, na rua Álvaro Castelões, e a família ia partilhando o quotidiano com os têxteis-lar. Joana começou a perceber que uma peça têxtil era mais do que saltava à vista, e já sabia distinguir gramagens, ler costuras e bainhas ou avaliar as composições pelo toque.

É essa experiência que ainda hoje coloca em prática na Rio Sul, a empresa da família, onde assume a responsabilidade de desenvolver novas colecções têxteis-lar. Desde a sua fundação, há 33 anos, a empresa foi crescendo, e do sótão da família Correia, passou para as galerias Manuel Laranjeira, também em Salgueiros, depois por um armazém na Arroteia, junto ao Hospital S. João, até finalmente assentar bagagens na Zona Industrial, onde hoje reúne um showroom, uma equipa de oito pessoas, alguma maquinaria especializada e sustenta um negócio que fatura cerca de um milhão de euros por ano.

“Não temos produção própria por opção. Percebemos que em Portugal conseguíamos encontrar parceiros que fazem o melhor em cada um dos sectores e o nosso papel seria montar o puzzle, construir coleções coesas e apresentar conceitos aos clientes”, explica Joana Correia, sobre o trabalho na Rio Sul, uma têxtil-lar que procura reunir o melhor da produção made In Portugal e levá-la às lojas, não só em Portugal, mas também em mercados como Espanha, França e Itália, para além de geografias mais distantes como a Eslováquia, a Estónia ou os países nórdicos.

Economista de formação, o seu trabalho centra-se sobretudo em desenvolver novos produtos. “Gosto muito de misturar e testar texturas e padrões, de criar algo novo, ver o resultado e depois perceber se pode ser comercial”, explica. Por ano, a empresa lança no mínimo três coleções, que incluem colchas, cortinas, almofadas, jogos de cama, edredões, jogos de banho, roupões, toalhas ou guardanapos. Para Joana, um dos grandes desafios está em manter o distanciamento e saber distinguir o seu gosto das tendências do mercado. “Temos de ter artigos de estilos diferentes, o meu gosto pessoal vai mais para um estilo nórdico, mais prático e limpo, mas sabemos da nossa experiência que os latinos gostam de mais floreados, com mais pormenores, são mais românticos. É muito importante saber interpretar os mercados”, comenta.

É com este olhar atento às tendências que Joana Correia não tem dúvidas em distinguir algumas correntes que vieram para ficar. “O consumidor final está mais exigente, há uma maior franja que não se importa de pagar mais se tiver mais garantias. Procuram melhores materiais, exigem que as peças não encolham, e estão atentos às fibras naturais”, comenta. Em relação à sustentabilidade, no entanto, lamenta que o comboio esteja ainda longe de chegar. “O eco-friendly é uma questão que não é levantada tanto como gostaria, no Norte da Europa está mais desenvolvida”, afirma.

Num ano marcado pela pandemia, a Rio Sul está agora focada na retoma e tem já espaço reservado na Intergift de Setembro, em Madrid – “não tive dúvidas em inscrever-me” – e tem até sentido sinais animadores do mercado. “Desde a abertura das fronteiras que temos tido uma grande afluência de compradores espanhóis no nosso showroom”, relata. Como explicação, avança com um efeito da pandemia no mercado: as pessoas nunca tiveram tanto tempo em casa e isso pode mudar os comportamentos em relação aos têxteis-lar. “Antes, o foco das pessoas estava fora de casa e agora passam mais tempo dentro de casa. Perceberam que vale a pena investir no conforto dentro de portas, num jogo de cama, num jogo de banho, porque são também sinais de qualidade de vida”, conclui a economista sempre atenta às tendências.

Perfil

Portuense de gema e portista de coração, Joana Correia fez quase toda a sua vida na invicta. Viu a luz na maternidade Júlio Dinis e passou a infância e juventude na zona Oriental da cidade, entre Salgueiros, onde morava – e onde os pais criaram a Rio Sul – e o liceu Aurélia de Sousa, onde terminou o secundário. Habituada desde pequena a lidar com os têxteis e com os números da empresa, quando chegou a hora de escolher a faculdade decidiu-se pelo curso de economia na FEP, já ali ao lado – “se fosse hoje, escolhia gestão, seria mais apropriado”, confessa. Depois do curso, fez um estágio de ano e meio em Trade Marketing, na Renova, que a levou a viver em Sevilha (daí o “quase”), antes de regressar à empresa criada pelos pais. Agora, divide o seu tempo pelo desenvolvimento de novas colecções e pelo carinho dos três filhos, Tiago (12), Rodrigo (10) e Inês (5).

RESTAURANTE
A Flor da Praia
Rua de Fuzelhas, 29
4450-683 Leça da Palmeira

Entradas Sopa de tomate, amêijoas à Bulhão Pato, pimentos Padrón e uma tábua de queijos Pratos Robalo ao sal, acompanhado por batata cozida, legumes salteados e grelos. Sobremesa Só café Bebidas Vinho branco (Herdade São Miguel, 2019) e água

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