T47 - Outubro 19
Dois cafés & a conta

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Empresa na Garagem
A primeira negócio que teve foi a Acorfato, que começou por fazer capas, batinas e fatos académicos
o business angel
“Já salvei mais de 600 postos de trabalho”, confessa orgulhoso o empresário
Francisco Batista

“Dá-me muito gozo pegar numa fábrica falida e sair com ela a PME Líder”, confessa Francisco Batista, o empresário que já arrancou cinco empresas das garras da insolvênvia

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têxtil entrou-lhe na vida por um daqueles acasos em que a vida fértil. Estávamos em 1990, em pleno cavaquismo e no Cavaquistão, na festa de casamento do irmão mais velho de Francisco, quando o padrinho da sua nova cunhada, sabendo-o contabilista, o apresentou a António Correia, um alfaiate que planeava estabelecer-se com um atelier e precisava de alguém que lhe tratasse da escrita. Estaria ele interessado?

Em tratar-lhe só das contas, não – respondeu Francisco, logo acrescentando estar, no entanto, disponível, para ser seu sócio e assegurar a gestão do projeto.

Negócio feito. Apertaram as mãos e nascia ali a Acorfato, que começou timidamente, a fazer fatos académicos, capas e batinas, na garagem lá de casa, com o sócio alfaiate em part-time (durante a semana trabalhava em Braga por conta de outrém), mas dois anos volvidos já inaugurava novas e modernas instalações, com 50 trabalhadores, e vendia fatos para clientes espanhóis.

E em 1997 já estavam a expandir o negócio através da aquisição de uma fabriqueta de confeções em Mangualde (que se dedicava a roupa de senhora e eles logo puseram a produzir calças) rebaptizada com os nomes dos dois sócios:  CBI – Correia e Batista Indústria.

“Éramos uma boa dupla. Eu aprendi com ele confecção e modelagem. E ele aprendeu comigo a gestão e a parte comercial do negócio”, recorda Francisco Batista, que escolheu almoçarmos no Cascata de Pedra, em Mangualde, que estava fechado, pelo que optou pela Quinta da Magarenha, que também estava de porta fechada, pelo que acabamos no plano C, a Casa do Caçador (“Fomos caçados”, ironizou), um restaurante onde ele já não ia há muitos anos, mas que se portou à altura.

Ser capaz de antecipar os problemas antes deles surgirem é um dos atributos exigidos a um bom empresário. Por isso, em 2007, ao ver que, na idade em que estavam, os 15 anos a mais do seu sócio iriam necessariamente implicar diferentes visões quanto ao ritmo de desenvolvimento da empresa, o B (Batista) propôs ao C (Correia) uma separação amigável de águas, antes que as divergências estratégicas explodissem à superfície prejudicando o negócio e ferindo a amizade entre os dois.

O B ficou com a que era então a componente mais fraca da sociedade – a CBI  (iniciais que agora podem corresponder a Confeções Beira Interior)- e o C com Acorfato. Francisco e a sua equipa meteram as mãos à obra e numa dúzia de anos transformaram a fabriqueta de confeções de Mangualde, que cabia em 600 m2, num grupo que ocupa uma área coberta de dez mil m2, tem uma fábrica em Cabo Verde e outra em Arganil (Amma 1981), fechou 2018 com 780 trabalhadores, um volume de negócios próximo dos 30 milhões de euros (97% é exportado), e uma carteira de clientes onde cintilam marcas como a Massimo Dutti, Polo Ralph Lauren, Calvin Klein ou Sacoor.

Pelo meio, Francisco ainda arranjou tempo para resgatar cinco empresas (uma de ultra-congelados e quatro têxteis) às garras da insolvência. “Dá-me muito gozo pegar numa fábrica falida e sair com ela a PME Líder”, confessa Francisco Batista, um empresário com uma costela de business angel, que adora ressuscitar empresas moribundas. “Já salvei mais de 600 postos de trabalho”, conclui, orgulhoso.

Perfil

Nasceu e vive em Tábua, sendo o filho do meio dos cinco frutos (três rapazes, duas raparigas) do casamento de uma doméstica e um pedreiro (“O meu pai era uma artista da pedra”, precisa). Concluído o 9º ano, foi trabalhar para a empresa de contabilidade de Henrique Tavares, o seu primeiro empregador e mentor, a quem manifesta eterna gratidão. Durante os nove anos que se demorou na Midoconta, em Midões, não só se tornou TOC (Técnico Oficial de Contas) e aprendeu a tratar as contas por tu, como, ainda por cima, aguçou o espírito empreendedor, que se começou a manifestar logo em 1987, quando, em parceria com um técnico de ótica, montou o seu primeiro negócio, o Centro Ótico de Tábua, com quatro lojas. Três anos volvidos, iniciou uma bela amizade com a têxtil, que dura até aos dias de hoje. Casado com Nathalie (uma portuguesa nascida em França), têm dois filhos, o Anselmo, 21 anos, que após se ter licenciado Engenharia de Gestão Industrial (ISEC) vai fazer em Gestão na FEUC, e a Eva, 18 anos, que vai cursar Ciências Farmacêuticas, em Coimbra

RESTAURANTE
Casa do Caçador
Estrada Nacional 16
3510-674 Viseu

Prato Entrecosto de porco na brasa Bebidas Água, Dão Cabriz branco Sobremesa Pudim molotov com ovos moles e dois cafés

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