Jorge Fiel
General Manager da Troficolor, Carlos tem 51 anos dos quais 33 anos a trabalhar na indústria têxtil. Não e impossível são duas palavras que não fazem parte do seu vocabulário
or norma, não come arroz nem batatas. Mas naquele dia fez uma pausa na greve aos hidratos de carbonos. As batatinhas que acompanhavam o cabrito marcharam todas. “Não sei quando vou voltar a ter uma oportunidade destas”, explica Carlos, que chegara de Los Angeles na véspera, à noite, e no dia seguinte, às seis da manhã, já estava a levantar voo com destino a Tóquio, de onde, no fim da Jitac, partiria para Xangai. Antes de LA, em Setembro, entre duas viagens a Milão, tinha estado na Primière Vision em Paris.
Não é por gosto, mas por necessidade, que ele está sempre a conjugar o verbo ir, ainda para mais voando em económica e sempre que possível na Ryanair. “Não gosto muito de viajar, mas em pequeno ensinaram-me que as coisas essenciais da vida não são uma matéria de gostar ou não gostar, mas de fazer o que tem de ser feito . E viajar é o princípio do conhecimento, da evolução.
Neste mundo global, é a viajar que se apanham os sinais de mudança”, teoriza este self made man, que se assume como um “faz tudo” e “caixeiro viajante” – e que durante o almoço, fechou, em três telefonemas, um negócio de venda de 50 km de tecidos. Uma das verdades de sangue que Carlos aprendeu nos 33 anos que leva de ITV é que as circunstâncias estão sempre a mudar, e por isso não há futuro sem humildade e uma mente aberta à mudança. Já não chega adaptar-nos à mudança. Temos de a antecipar e, se possível, sermos nós a criá-la. Se não tivéssemos conseguido criar a mudança, não estaríamos aqui a conversar”.
No ano 2000, a Troficolor descontinuou a atividade industrial. “Tinhamos problemas com o Ministério do Ambiente, porque com o crescimento da Trofa, a fábrica acabou por ficar no núcleo urbano. E não fazia sentido deslocalizar máquinas que já não eram novas”, justifica. De então para cá dedica-se à compra e venda de tecidos, mas é mais que uma trading.
“Nós não nos limitamos a comprar e vender. Escolhemos os tecidos, temos concepção e design próprios, apresentamos coleções com marca própria, Denim Makers, e peças de mostruário. Não fazemos private label, mas queremos que os nossos clientes coloquem cá a produção, para que o valor acrescentado fique em Portugal”, afirma, acrescentando que a Apple também não tem fábricas e produz na China.
Com 30 trabalhadores e um armazém em Lousado, a Troficolor tem 400 clientes diretos – uma carteira onde constam a Inditex e marcas como a Max Mara, Ralph Lauren ou Armani -, exporta (direta e indiretamente) 90% do seu volume de negócios e tem como principais mercados a Itália, Alemanha, França e Espanha.
O vento corre-lhe de feição, mas Carlos Serra não tem ilusões. Sabe que o tempo não volta para trás e nunca mais se repetirão os anos fantásticos, do final do século XX, em que, para se enriquecer na têxtil não era preciso ter um olho – bastava meio. “Agora, para estar neste negócio, não chega ser bom, ter a estratégia certa e fazer umas reuniões. É preciso ser muito bom, ter uma equipa ao mesmo nível e saber fazer as coisas acontecerem”.
Tinha 18 anos quando trocou os livros por um emprego no armazém da fábrica do pai. Começou de baixo, para não ser olhado de lado, como o filho do patrão. Andou pelas feiras, ao volante de uma Ford Transit carregada de trapos, pelas estradas de Viseu, no tempo em que a CEE ainda era uma miragem. Dois anos depois, em 84, assumia o negócio têxtil da família, para o pai, José Serra, se poder concentrar no negócio da construção, onde dava cartas na Trofa. Agora, com 33 anos de têxtil no lombo, está muito mais rico, pois tem dois filhos (Tiago, 24 anos, estuda Medicina, e Pedro, 19, anda em Gestão de Estruturas) e uma data de saber de experiência feito. “Não e impossível são duas coisas que não existem para mim. Não fazem parte do meu vocabulário”
Av. D. Afonso Henriques 681 4760-363 Calendário, Famalicão
Presunto pata negra, pataniscas de bacalhau, água, Quinta do Castro branco, cabritinho assado no forno, parrilhada de peixe fresco com gambas, dois cafés