T 6 FEVEREIRO 2016
Dois cafés & a conta

Jorge Fiel

Mestre da gestão
Américo Amorim é um mestre da gestão que incentiva os quadros a tomar decisões de risco
Break even
Sinto que estamos em break even operacional e já temos alguns negócios a dar dinheiro
Artur Soutinho

O CEO do grupo MoreTextile tem 55 anos e é licenciado em Economia pela FEP Esteve na Efacec, Amorim, Norpedip e Chamartin antes de ser chamado a dar a volta ao maior grupo português de têxteis lar

J
J

á dorme melhor do que na Primavera de 2011, quando a Troika estava a desembarcar em Lisboa e ele aceitou a missão quase impossível de pegar em três empresas lendárias mas em sérias dificuldades e fazer delas o maior grupo português de têxteis-lar, com a cabeça fora de água.

“Sinto que estamos em break even operacional e já temos alguns negócios a dar dinheiro”, confessa Artur Soutinho, que escolheu almoçarmos no São Gião, ali ao lado da António Almeida & Filhos, uma das três empresas que lhe caíram no regaço (as outras são a Coelima e a JMA).

Quando disse que sim ao convite, sabia que se estava a meter numa carga de trabalhos e a comprar uma data de noites mal dormidas, mas ele não é um homem para se atrapalhar com dificuldades. Na juventude, jogou andebol no Coimbrões e fez a tropa nos Comandos.

Começou pelo diagnóstico. As três empresas tinham estruturas financeiras desajustadas, um parque de máquinas envelhecido, trabalhavam défices de design, criatividade, inovação – e margens desastrosas.

Mas não eram só más notícias. Tinham boa reputação, massa crítica industrial, um nome reconhecido no mercado, muito know-how, produto de qualidade e uma boa carteira de clientes, onde avultavam as maiores cadeias mundiais de retalho, como a Marks & Spencer, Carrefour, Sears ou El Corte Inglès.

Pesados os contras e os prós, Artur Soutinho conclui que havia ali pontas por onde pegar para fazer o turn around daqueles ativos, reestruturando-os e desenvolvendo-os. “Era um projeto superabsorvente mas fazível”, confessa o CEO da MoreTextile, que a avaliar pela riqueza e variedade do curriculum era o homem certo para ser bem sucedido nesta empreitada.

Mal saiu da faculdade, foi parar à Efacec, onde se demorou ano e meio, antes de se transferir para o grupo Amorim, onde fez, na prática, o mestrado, doutoramento e pós doc em gestão.  “Foi uma experiência brutal num período fervilhante de crescimento trepidante, diversificação e investimento estrangeiro.  Américo Amorim é um mestre da gestão, que incentivava os quadros a tomar decisões de risco e a resolver problemas. Aprendi com ele a dirigir uma reunião”, conta.

Após esta primeira passagem de nove anos por Mozelos, voltaria ao grupo Amorim, para a área imobiliária, como CEO da Chamartin, após escalas na Norpedip (onde acompanhou o processo de reestruturação da Somelos) e na administração da Portucel, onde preparou a privatização e aprendeu a fazer negócios com o Estado.

Este estafado percurso não cansou Artur, que apesar de estar a entrar nos 50 anos ainda se achou com força e entusiasmo para trocar o triângulo Porto-Madrid-Lisboa pelo Pevidém-Moreira de Cónegos-Santo Tirso e mergulhar de cabeça num complicada operação de transformação de um conjunto de ativos em crise num grupo eficiente e competitivo.

Quase cinco anos volvidos, não só já dorme melhor como vive um american dream (as vendas para os States cresceram 40% em 2015, ajudadas pelo vento a favor da nova  relação dólar/euro e das perspetivas do acordo EUA/UE), na liderança do maior grupo português de têxteis-lar, que fatura 90 milhões de euros, emprega 1 300 pessoas e exporta 85% da sua produção.

Perfil

Nasceu e cresceu em Lavadores, junto à praia, filho de uma professora primária e um economista ROC. Ainda andava no Liceu de Gaia quando ganhou os primeiros dinheiros a fazer cobranças, de bicicleta, por conta do tio, que era mediador de seguros e lhe pagava à percentagem. Na FEP, foi aluno de um “dream team”, onde constavam Manuel Baganha, Daniel Bessa, Miguel Cadilhe e Teixeira dos Santos. Alguns professores trabalhavam com grandes fábricas - Coelima, Riopele, Somelos, TMG, Arco Têxtil.. -, pelo que não espanta que em universitário tenha sonhado vira a ser diretor financeiro de uma grande empresa como aquelas. Trinta anos depois, o sonho concretizou-se, em ecrã gigante mas com espinhos, quando o fundo SCS Capital, dirigido por António de Sousa, o desafiou a evitar o naufrágio de três empresas do Gotha dos nossos têxteis lar

RESTAURANTE
São Gião

Avenida Comendador Joaquim de Almeida 56

4815 Moreira de Cónegos

Entradas: Queijo grelhado e peito de pato fumado Prato: Filetes de bacalhau com açorda de bacalhau. Vinho: Verde branco São Gião. Dois cafés

Partilhar