Vamos Lá Acordar, se Faz Favor!
T55 - Julho/Agosto 2020

António Souza-Cardoso

Presidente da AGAVI
H

á um pacto entre o Covid e os “Covidenses” que, estou muito seguro, tem que ser urgentemente contrariado. Porque terá consequências sanitárias, pelo menos, tão graves como os próprios proclamam e outras consequências, sociais e económicas, verdadeiramente devastadoras para a vida e para a saúde futura dos portugueses.

Não sei se todos têm consciência dos números, mas em 3 meses e meio Portugal perdeu mais de 6 mil milhões de euros. O que sugere um deficit a rondar os 15 mil milhões de euros no período de um ano. O maior de sempre na memória viva dos portugueses. Julgar que esta hecatombe económica não terá impacto nas nossas vidas faz lembrar a história daquela cigarra que passou o verão inteiro na “boa vai ela”!

E o que podemos fazer contra isto? Nada, dirá a maioria, a não ser rezar para que não haja segunda vaga e que nos apareça um medicamento sério ou uma vacina acessível, o mais rápido possível.

Poi este é o ponto em que eu discordo e gostava de chamar a atenção de todos: Claro que existe contração incontornável da economia e do emprego ocasionada pelo drástico decréscimo do turismo, a nossa galinha dos ovos de ouro dos últimos anos e pelas limitações do acesso aos mercados internacionais, eles próprios numa recessão sem precedentes.

Claro que morre gente com o Covid, um vírus matreiro e com uma enorme capacidade de propagação. Claro que todos temos que ter respeito pela vida, pela doença e por todos os efeitos horríveis que as pandemias causam nas populações, em especial as etária e economicamente, mais frágeis.

Mas a idade e a vida deram-me sentido de proporcionalidade e ensinaram-me a perceber alguma coisa da condição e do comportamento humano. O Covid é a “mono conversa” nacional. O principal motivo do jogo político, da agenda jornalística, do momento social…

E isto gerou na maioria dos cidadãos uma letargia, um estado de entorpecimento que, não sendo verdadeiramente voluntário, é acolhido com um compungimento dramático e fatalista. Temos pena de nós próprios e da armadilha que nos pregaram e, por isso, confinamo-nos da própria realidade que nos vai, com muita probabilidade, atropelar a todos.

Está na hora de acordarmos, mesmo com a eventualidade cada vez mais real de haver uma segunda vaga, mas seguros que com tudo o que defensivo temos que fazer em relação à pandemia, só temos uma oportunidade de aproveitar a envergonhada solidariedade europeia e apostar definitivamente na regeneração do nosso tecido produtivo

A Indústria e o Norte serão certamente os primeiros a acordar e a dar, uma vez mais, o exemplo de resiliência, de coragem, de proporcionalidade e de pragmatismo!

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