Luxo e sustentabilidade (III)
T89 - Janeiro 24

Susana Neto

Artista Têxtil
S

urge também a questão relativa à toxicidade dos tecidos e há estudos académicos que concluem haver uma relação direta entre a utilização de certos tecidos e o surgimento ou aumento de sintomas graves de saúde nas pessoas que os utilizam. Cada vez mais conscientes e informados, os consumidores procurarão os artigos que certificam a segurança dos produtos, tanto para a sua saúde como para o ambiente, como a certificação GOTS, por exemplo.

As gerações que começam a predominar não seguem tendências, são antes eles próprios criadores de tendências. E essa alteração no comportamento dos consumidores será bem palpável a partir do momento em que estes terão acesso todas as informações relevantes relacionadas com as peças que são comercializadas.

Atualmente, está aberta uma ‘call’ para empresas europeias apresentarem propostas para este passaporte, de forma a acelerarem a transição para uma Economia circular. Todas estas transformações a que assistimos estão interligadas e acontecem a uma velocidade espantosa. 

Oportunidades no sector da decoração. É algo que se consegue perceber muito bem, por exemplo, no mercado da decoração, um sector onde também os têxteis têm um espaço muito importante. Em março deste ano, no âmbito das Feiras Export Home e IDF Spring, Amélia Estevão, diretora de Marketing da Exponor, sublinhou em entrevista que “para alguns especialistas em marketing de produtos e serviços de luxo, o sector da decoração é, sem dúvida, aquele onde Portugal poderá ter a maior capacidade de afirmação no mercado do luxo internacional”.

Este é um mercado em franco crescimento, por várias razões. Os confinamentos tiveram um enorme impacto na Indústria do Design de interiores. As pessoas começaram a alterar a sua perspetiva sobre o que as casas representam para elas e a dar mais valor aos seus espaços, ao design das peças que as rodeiam, a locais acolhedores e funcionais.

Surge também um crescimento das cidades inteligentes, com um crescente aumento da população mundial a deslocar-se para essas áreas. São cidades estudadas para serem mais eficientes, e que integram várias soluções tecnológicas, como a internet das coisas. Passa a ser habitual o controlo do que nos rodeia através de um simples telemóvel. Sendo estas gerações mais nómadas, menos apegadas a objetos e a casas grandes, desejam ter poucas coisas, mas que sejam significativas.

Chegar ao consumidor no mercado de luxo. Uma vez que, cada vez mais, há uma vontade de viver experiências surpreendentes, vontade de conexão com as marcas, sentir que há um propósito comum e que se pertence a uma comunidade, os eventos de marketing imersivo são uma opção muito utilizada para dar a conhecer novos produtos e a consolidar a ligação à marca.

A utilização do storytelling é fundamental para sua conexão com os consumidores. O storytelling, no luxo, transporta-nos para um mundo de fantasia e sonho. Sendo uma relação única entre imagens visuais e emoções, cria memórias que as pessoas gostam de revisitar, fortalecendo a sua ligação às marcas. Contar a histórica de como a marca surgiu, ou o que deu origem às suas peças mais icónicas. Transportar as pessoas para um mundo imaginário que as relaciona com o cerne da marca.

São fundamentais criatividade e pesquisa constantes, networking… para que as empresas se consigam manter relevantes e continuarem a gerar um efeito surpresa em pessoas que estão a par do que se passa em todo o mundo, a cada momento. 

Há atualmente uma enorme capacidade criativa que tem encontrado, num curto espaço de tempo, inúmeras soluções que contribuem para que as empresas consigam fechar o Círculo dos seus modelos de negócio circulares. O caminho leva o seu tempo, por vezes as respostas a algumas fases ainda não são possíveis, ou são possíveis, mas ainda não foram consideradas.

Esta transição já está a acontecer e é inevitável, e implica uma grande preparação a todos os níveis, desde o desenvolvimento do produto, passando por alterações no marketing, área comercial, produção, embalagem, logística…

Há empresas que gostariam de ir mais depressa e não estão a conseguir, devido, por vezes, aos seus modelos de negócio assentes em baixa qualidade e alta rotatividade em termos de novos artigos, para promoção de um alto consumo. Algumas têm lançado, aos poucos, novas linhas, com novos materiais, novos fornecedores, tentando adaptar-se…

É importante que as empresas dediquem energia à passagem de conhecimento sobre a necessidade destas transformações, da importância das alterações que estão a efetuar e qual o impacto que estas terão nos seus produtos e preços, para que estes se continuem a identificar com a marca e se mantenham fiéis.

Assiste-se a uma grande entreajuda entre stakeholders que trabalham com o mesmo propósito de fazerem parte da solução.  Frequentemente vemos uma enorme generosidade na troca de soluções que contribuem para a aceleração, nesta viagem.

Presenciamos instituições a trabalharem construtivamente com governos; empresas de grandes dimensões que trocam experiências com empresas de pequenas dimensões; concorrentes que se unem para atingirem soluções conjuntas; empresas ambientalistas unidas aos maiores poluidores, de forma a trocarem pontos de vista e a unirem conhecimentos e esforços.

É impressionante como todos os que estão a trabalhar para a construção desta passagem entre a economia linear e a economia circular, sentem um impulso inspirador de avançar, em conjunto, desde uma pessoa singular a uma grande multinacional!

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