Um bom ano com riscos pela frente
T27 Dezembro 2017

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
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017 foi essencialmente mais um bom ano para a generalidade das empresas do sector têxtil e vestuário português.

Os indicadores desagregados dão-nos uma leitura em linha com que tem sucedido nos últimos anos, revelando uma trajetória sempre ascendente, de dinâmica moderada, mas sustentada. Além disso, este ano de 2017 é o ano do record das exportações, devendo as mesmas situarem-se entre os 5.2 e 5.3 mil milhões de euros, numa progressão de 4% face ao ano anterior, claramente acima do máximo alguma vez alcançado de 5.076 milhões em 2001.

Contudo, se lermos os números com mais atenção, podemos identificar problemas que nos devem fazer refletir e procurar prevenir situações que serão, seguramente, mais negativas do que aquela que vivemos hoje.

Tal como foi referido, com ênfase no último Fórum da Indústria Têxtil, o PIB efetivo está acima do PIB potencial, o que significa que a economia está sobreaquecida, produzindo acima da sua capacidade produtiva, ou, por outras palavras, a “fábrica está enferrujada”, a dar mais do que pode, a dar o que já não pode, revelando que estamos a preparar-nos alegremente uma nova crise.

No que nos diz respeito, há que ler a situação desta forma: o pleno emprego está a obrigar as empresas da Têxtil e do Vestuário a “roubar” quadros umas às outras e a fazer disparar salários e os custos da mão-de-obra, comprometendo a competitividade, e não é certo que todas as empresas, mesmo as exportadoras estejam a ganhar dinheiro, pois, se num momento lutaram pelo cliente e pela quota de mercado, continuam a ter grandes dificuldades em impor margens e gerar meios para pagar sequer os investimentos, mesmo com todos os fatores críticos evidenciados e que hoje as diferenciam.

Há também que concluir que toda a capacidade ociosa das empresas foi sendo recuperada desde a crise de 2008 e que, hoje, está esgotada, pelo que, se não se conseguir gerar fora o valor, mesmo externalizando atividades e encomendas, não se vê como é possível continuar a expandir os indicadores que até agora cresceram: volume de negócios, produção, emprego e exportações.

Embora o “roadmap” que a ATP desenhou até 2030 já avance exercícios prospetivos com vista a um novo Plano Estratégico para o sector e se mantenha basicamente positiva nas abordagens e cenários, há que ter em consideração que o grau de incerteza, imponderabilidade e volatilidade não cessa de aumentar, no contexto nacional e internacional, o que pode transportar igualmente o incremento das ameaças ou a multiplicação das oportunidades para dentro da fileira e da economia em geral.

É cada vez mais difícil fazer prognósticos, mas isso não é forçosamente mau, pois vai obrigar a ITV a andar mais atenta, ser mais profissional, agir mais proactiva e apresentar-se mais agressiva comercialmente, a que se deve juntar, como desígnio, ter cada vez mais o foco na rentabilidade, que só a boa gestão das organizações pode garantir. Este é um bom desejo para 2018, que todos irão ganhar em formular e, sobretudo, cumprir.

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