Sinais a Contrariar
T31 Abril 2018

Paulo Vaz

Diretor-Geral da ATP e Editor do T
O

s primeiros dados de comércio externo de 2018, limitados apenas ao mês de Janeiro, são ainda insuficientes para estabelecer uma tendência.

Como em anteriores anos, só a partir dos dados de Julho ou Agosto, combinados com indicadores de conjuntura e outros avançados que dispomos, se pode determinar uma direção segura sobre o que será o ano na sua atividade externa.

Há, contudo, quatro notas que considero se vão repetir como padrão ao longo dos próximos meses:

  1. A Espanha irá perder quota no conjunto dos mercados de exportação da ITV portuguesa, apesar de se manter líder destacada com quase três vezes a dimensão do segundo destino. Não será necessariamente uma má notícia, se o conjunto das exportações mais do que compensar essa quebra, por um lado, e, por outro, porque reduzir o excesso de dependência de um mercado é reduzir riscos no futuro, tal como acontece com as empresas que, prudentemente, diversificam os seus clientes. No caso da Espanha há também dois elementos a considerar nesta equação e que poderão ser a razão da complexidade do problema: a situação da Catalunha, longe de conhecer resolução e que pode condicionar o crescimento económico geral em todo país e o grupo Inditex, que parece estar em pleno processo de revisão do seu modelo de negócio, com implicações no “sourcing” como se está a sentir.
  2. O aumento continuado e sustentável das exportações da ITV portuguesa para os Estados Unidos da América, tanto nos têxteis-lar como no vestuário, que pode proporcionar que este destino externo venha a trocar de lugar no “ranking” com o Reino Unido, que continuará a ser penalizado pelo “Brexit”. A meta dos 350 milhões de exportações poderá ser alcançada em 2018 ou em 2019 e a quota de 7% consolidar-se então como a quarta mais importante. Quem diria, Mr. Trump?
  3. Um maior crescimento em valor nas exportações de têxteis, incluindo o têxtil-lar, do que nas de vestuário, que vai conduzir a um arrefecimento no crescimento geral das vendas ao exterior, sem, contudo, significar que tal seja necessariamente uma diminuição das exportações em geral. Tem que ver com o primeiro impacto do aumento do preço das matérias-primas, mas também na consolidação de têxteis de alta tecnicidade, em que se destaca o automóvel, no conjunto das matérias.
  4. A economia mundial em geral não deverá conhecer sobressaltos nas suas previsões de crescimento, pelo que eventuais problemas nas vendas da ITV portuguesa ao exterior resultarão essencialmente de perda de competitividade interna, por razões de contexto, insuficientemente compensada pelo esforço de incremento da inovação e internacionalização.

Hoje, há mais sinais a impor-nos atenção que há um ano ou dois atrás. A vida é feita de ciclos, sendo que o de crescimento que vivemos está a ser anormalmente longo, o que também não significa que esteja prestes a inverter-se. Muito do trabalho de reestruturação e de modernização das empresas não está ainda concluído e muitos investimentos entretanto efetuados aguardam o retorno do esforço, esperando-se conjuntura propícia para o efeito. Vamos viver um momento mais desafiante, mais exigente e mais incerto, num quadro em que a incerteza foi sempre o pano de fundo, desde há vários anos. Não ser complacente nem acomodado nestas circunstâncias pode ser a diferença entre ter lugar no futuro ou não ter, tal como a nossa história recente sabiamente nos ensinou.

Ser positivo não deve ser sinónimo de otimismo inconsequente, mas de esclarecimento, prudência e oportunidade. Como a ITV portuguesa o irá demonstrar mais uma vez.

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