OU SEREMOS DIGITAIS OU NÃO SEREMOS
T30 Março 2018

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
E

m 2017 a Indústria Têxtil e Vestuário portuguesa alcançou o seu melhor resultado de sempre nas exportações, superando os 5.2 mil milhões de euros de vendas ao exterior, batendo um recorde que vinha do início do século.

Por outras palavras foram necessários 16 anos para recuperar uma fasquia que, na época, parecia capaz de ser elevada indefinidamente, muito embora existissem amplos sinais de que o mundo estava rapidamente a mudar e que quem não mudasse com ele ficaria para trás. Recordo-me desse tempo e recordo o estudo que a Kurt Salmon realizou para a então “APT – Associação Portuguesa dos Têxteis” ( hoje integrada na APT ), no qual avançava um profundo impacto da liberalização do comércio têxtil mundial no sector em Portugal e que a maioria dos seus “players”, à época, desvalorizou e até apodaram de alarmista. Uma boa parte deles acabou vítima da previsão, mesmo recusando-se a acreditar nela e, certamente, por isso mesmo.

Então porque falo disto, neste momento, quando todos – incluindo eu – celebramos o extraordinário resultado de exportarmos têxteis e vestuário como nunca dantes, sendo corolário de um longo período de recuperação?

Falo precisamente para que nunca nos instalemos, nunca acreditemos que o trabalho está realizado e que o futuro, por muito que pareça luminoso, pode reservar surpresas menos agradáveis quando menos se espera.

No momento em que, em 2001, atingimos o pico da atividade sectorial, foi precisamente aí que encetamos uma queda que só terminou em 2009, havendo igualmente muitos que vaticinaram um declínio irreversível e um desaparecimento da têxtil e vestuário em Portugal a prazo. Por pouco não acertaram! Hoje, quando festejamos os números de 2017 não podemos correr os mesmos riscos de nos acomodarmos e sermos complacentes connosco e com os demais.

Se desejamos continuar a crescer há que prosseguir com os esforços de modernização, de reconversão, de reorganização e de investimento, procurando a diferenciação pelo valor e não cair na desgraça da competição pelo preço. Estas palavras parecem retórica de consultor, mas a verdade é que se as empresas não se focarem em ganhar dinheiro, alargarem margens e diversificarem clientes e mercados, o discurso acabará por se verificar na plena crueza da realidade.

A História ensina-nos tudo que devemos aprender, basta que o queiramos.

A liberalização do comércio têxtil global e a entrada da China na OMC foi a grande transformação do início do século, relativamente às quais muitas empresas acordaram tarde e foram brutalmente sacrificadas por essa distração ou negação da realidade.

Nos dias de hoje, está em enchimento um novo fenómeno que produzirá os mesmos efeitos que a globalização realizou há quase duas décadas atrás: a digitalização dos negócios será fulcral para realizar a seleção das empresas que permanecerão e das que desaparecerão.

Infelizmente, a maioria do tecido empresarial parece distante do problema, atribuindo-lhe uma importância lateral ou até considerando não se achar envolvido no mesmo. A verdade é que daqui a duas décadas quem não realizar negócios “online” possivelmente não conseguirá realizar negócio algum, culpando sempre um terceiro pela sua desgraça, mas jamais percebendo que foi a ignorância e a inépcia próprias que conduziram ao seu fim.

A verdade é que o futuro é digital, e ou o seremos ou nada seremos.

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