O desafio da maioridade
T40 - Fevereiro 19

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP
O

s dados oficiais relativos a 2018 não estão ainda fechados, mas não devemos errar muito se concluirmos que as exportações aumentarão face a 2017, mesmo que marginalmente, superando os 5.3 mil milhões de euros. Pela segunda vez seguida, na mesma década, foi superado um máximo que vinha de 2001. Já o mesmo se não poderá dizer do volume de negócios que estagnou – ou até mesmo diminuiu -, e o emprego, que pode mesmo ter voltado a retroceder, após um crescimento consecutivo de três anos e até face a uma clara escassez de mão-de-obra disponível, qualificada e indiferenciada, problema transversal a toda a indústria.

Parecem dados contraditórios, mas talvez não sejam tanto assim.

Depois de uma década de contínua expansão, como não há registo no sector, eis que os primeiros sinais de mudança de ciclo começam a chegar vívidos e relativamente aos quais não podemos negligenciar a atenção.

A degradação da conjuntura internacional, mormente a europeia, em que o processo do “Brexit” e a mudança de política de aprovisionamento do principal cliente da ITV portuguesa, a Inditex, ditaram tendência, a que acresce um fenómeno não menos preocupante, uma vez que se apresenta estrutural, e que passa pela mudança de comportamento do consumidor, especialmente nos países mais desenvolvidos, mais orientado para aquisição de bens culturais ou viagens do que para artigos de vestuário ou moda, que parece estar ainda a robustecer-se nos anos que se avizinham.

Não são boas notícias e os apelos à necessidade de as empresas não serem complacentes, instaladas ou dependentes de escassos clientes, que tantas vezes foram feitos nesta coluna, no passado, parecem agora fazer mais sentido que nunca.

O ano de 2019 será um ano exigente e de desafio.

As empresas terão de voltar a olhar para si próprias com a severidade que a sobrevivência sempre impõe quando a mudança é forçada pelas circunstâncias. Mais uma vez, muitas não serão capazes de vingar, e outras sobressairão mais fortes, abrindo mesmo espaço a novas organizações, mais modernas, geridas com mais rigor e mais alinhadas com o seu tempo e com os tempos que estarão para vir.

Uma coisa é certa, o que foi feito desde o final da década passada, especialmente a incorporação da inovação tecnológica e da criatividade no DNA das empresas, a sua contínua servitização, para que a dependência única do custo-eficiência não se torne uma armadilha, mas que seja apenas algo num todo que é oferecido ao cliente, não se tratou apenas de “espuma” de uma época de prosperidade, agora ameaçada. A mudança estrutural, profunda e intencional, que se realizou na ITV portuguesa será a sua melhor arma para enfrentar as dificuldades que se avizinham, desde que não se transija na assertividade da estratégia comum, na coerência do discurso e na consistência das ações.

Mais do que nunca o sector tem de estar unido, abandonando disputas estéreis e protagonismos desadequados ao interesse comum, até porque os recursos irão igualmente diminuir e o interesse da classe política é sempre e apenas proporcional ao oportunismo da ocasião, pois de sector maldito passamos a sector modelo, como novamente regressaremos ao ostracismo, se os resultados não aparecerem.

O desafio que está colocado é afinal o da maioridade do sector.

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