INOVAR COM TRADIÇÃO
T31 Abril 2018

António Falcão

Presidente
do Conselho Fiscal da ATP
P

arece ser indiscutível que o segredo da longevidade é acompanhar os tempos, quando não mesmo antecipá-los, de modo a não se ficar preso num anacronismo que geralmente é fatal para quem acredita poder resistir à mudança.

A Indústria Têxtil e Vestuário portuguesa é um bom exemplo daquilo que é a intersecção virtuosa de uma atividade económica tradicional no nosso país – a têxtil tem mais de 150 anos, mas também as malhas e a confecção já levam muitas dezenas anos de implantação em polos importantes como os Vales do Cávado e do Sousa, entre outros – , que soube modernizar, incorporando tecnologia e design, procurando o valor e fugindo à destrutiva competição pelo preço.

É verdade que muitas empresas não resistiram à liberalização do comércio internacional e à hegemonia da China no negócio têxtil mundial, entre outros brutais impactos do processo de globalização, mas as que conseguiram superar este desafio supremo estão hoje mais preparadas para enfrentar o mundo e as suas dificuldades, sabendo igualmente aproveitar as suas oportunidades.

Por isso o sector têxtil e vestuário português é simultaneamente de tradição, porque permanece, quando outros, fugazmente, aparecem e desaparecem, e de inovação, porque usa esta para se renovar, para lhe agregar valor, diferenciando produtos e serviços, diversificando para outras atividades mais tecnológicas, como a saúde, a construção, o desporto ou a mobilidade, ou com mais intensidade de design, que vão da oferta “full package” ao cliente de “private label” ao lançamento de marca própria.

É também esta narrativa, que faz parte da História e DNA da ITV portuguesa e que movimenta, de forma conjunta, complementar e sinérgica, empresas de tradição, com várias gerações, com empresas que agora são criadas por jovens empreendedores e com novos profissionais, na busca do mesmo sonho de excelência que tão bem caracteriza o “made in Portugal” neste sector e o reputa em todo o mundo.

E se tradição se consolida porque se acredita que a inovação é o seu alimento, há que acrescentar que as características de flexibilidade e adaptabilidade, que diferenciam positivamente a ITV portuguesa, podem, contudo, estar em causa no futuro, caso persista a atual tentativa governamental de reverter as reformas laborais, mormente o “banco de horas”, fundamental para a gestão dos recursos humanos nas empresas industriais, em especial em indústrias como a nossa em que a sazonalidade é crítica e a imprevisibilidade na programação produtiva é permanente. Mais seria de invocar que, se desejarmos uma ITV ainda mais forte, mais dinâmica e mais produtiva, a flexibilização das leis laborais terá de avançar para domínios onde o legislador não conseguiu ir ainda por puro preconceito ideológico. Uma certeza, porém: a vida ensina que o que não fazemos voluntariamente e de forma preparada, a realidade acaba por se impor e com custos bem mais pesados. Acredito, contudo, no bom senso e na sabedoria do tempo e dos homens, para, mais cedo do que tarde, se fazer o que importa ser feito.

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