Fazer o futuro à nossa medida
T48 - Novembro 19

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP
A

década que vivemos foi de recuperação para a nossa ITV que, após ter sofrido sucessivos e dramáticos choques competitivos de 2001 a 2008, conseguiu reinventar-se com base em novos e mais valorizados drives, como o design, a inovação tecnológica e o serviço, tornando-se cada vez mais internacional e competitiva, especialmente nos segmentos mais exigentes do mercado.

Se quiséssemos resumir a transformação havida na nossa indústria nos últimos dez anos anos, poderíamos dizer que ela deixou a competição pelo preço para concorrer pelo valor, deixou de ser tomadora de encomendas para ser ativa prestadora de soluções ao cliente, deixou de actuar de forma casuística e desordenada e passou a alinhar a estratégia coletiva das empresas privadas com as políticas públicas, para melhor utilizar os recursos comuns, nomeadamente aplicá-los em áreas prioritárias como a formação profissional, a inovação tecnológica e a internacionalização.

Hoje, a ITV portuguesa é vista como um case study internacional, que quer ser imitada por outras atividades similares nas mais diversas geografias, procurando fórmulas idênticas de sucesso.

Embora satisfeitos por termos conseguido inverter uma tendência de declínio e termos demonstrado que é possível manter indústrias transformadoras em países desenvolvidos, comprovando na prática o que muitas vezes só cabe nos discursos políticos, sabemos que não podemos ser complacentes connosco, não nos podemos acomodar e não podemos subestimar as dificuldades que se estão a colocar a toda a indústria, em Portugal e no mundo.

O tema da Convenção da ITMF, que tivemos o prazer e orgulho de receber no Porto, não podia, por isso, ser mais atual, pois combina dois dos mais importantes desafios a que a indústria têxtil mundial está confrontada: a digitalização e a sustentabilidade, que vão moldar o que será a nossa atividade para futuro. Um futuro que afinal é já hoje.

Há quem afirme que a têxtil é o maior negócio do mundo, permanentemente em crescimento, expandindo-se para novas áreas de intervenção, que, ainda há escassos anos, não estavam sequer identificadas.

Os têxteis estão por toda a parte e vão ainda aumentar mais a sua presença, pois oferecem respostas para as necessidades humanas que mais nenhum outro material ou atividade produtiva conseguiu satisfazer, pelo menos da mesma forma e com igual eficiência.

Esta é a primeira certeza que o têxtil tem um lugar garantido no futuro, dependendo apenas da nossa imaginação, trabalho e determinação para que o sucesso do passado se converta igualmente num sucesso ainda maior no futuro.

As tensões geopolíticas e geoeconómicas que estão a condicionar atualmente o crescimento mundial e que podem eventualmente antecipar uma crise global, são apenas dados de uma complexa equação que teremos de resolver, transformando ameaças em oportunidades.

Sem perder o realismo e sem escamotear os problemas que se nos colocam, assim como a sua gravidade e consequências, quero deixar a todos os meus colegas empresários uma mensagem positiva, pois ninguém melhor do que eles saberá dar um futuro à nossa indústria pelo simples facto de que são capazes de fazer esse futuro à nossa medida.

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