Escassez de capital humano
T22-23 Julho/Agosto 2017

Paulo Vaz

Diretor-Geral da ATP e Editor do T
A

falta de recursos humanos na ITV portuguesa é, manifestamente, uma ameaça que se torna cada dia mais séria para o crescimento sustentado do setor.

Estimativas da ATO apontam para que, caso a oferta correspondesse plenamente à procura, cerca de 4 mil postos de trabalho seriam imediatamente criados, em todos os níveis de qualificação, dos mais elementares à direção de topo altamente especializada.

E, se analisarmos, com mais detalhe esta disfunção, verificamos que a emergência é ainda maior nos subsetores de mão-de-obra intensiva, ou seja a confeção e o vestuário. Em conclusão, não se encontram trabalhadores, os centros de emprego não disponibilizam oferta, ou quando o fazem é completamente desadequada, as gerações mais novas, muito mais instruídas, não pretendem ter uma carreira na costura, como as suas mães e avós tiveram. As aspirações são outras, os serviços são mais atrativos e existem mesmo outras indústrias, com iguais problemas de captação de capital humano, que estão a concorrer pelo salário, fazendo subir as remunerações, o que, por um lado é positivo sob o ponto de vista social, por outro, quando não compensado, mau sob o ponto de vista de competitividade. E sem competitividade, a prazo, não existirá Indústria Têxtil e Vestuário ou qualquer outra.

Que fazer, então?

Penso que o caminho está apenas no aumento da produtividade, combinado com a adoção de equipamentos cada vez mais automatizados e na melhoria dos processos produtivos, de forma a procurar a eficiência máxima. Maior produtividade significa igualmente mais e melhor formação profissional, o que, infelizmente, não tem sido a linha política deste governo, que desinvestiu nos centros protocolares de formação e tornou a qualificação uma das áreas menos acarinhadas no Portugal 2020.

Como é possível pedir mais profissionais qualificados, quando os orçamentos dos centros protocolares, incluindo o Modatex, se mantém congelado, e, muitas vezes, as verbas aprovadas conhecem cativações extraordinárias, para a Administração Pública poder cumprir as metas do défice do Estado?

E, lembre-se, é da TSU, paga pelas empresas e trabalhadores, que se retira o dinheiro para a formação profissional, o que, no caso da ITV, está muito longe de ser toda aplicada nas suas próprias necessidades!

Em alternativa, as empresas vão ter de procurar subcontratar no exterior as partes da cadeia produtiva que não conseguirem encontrar dentro, caso queiram continuar a operar neste negócio.

Não é nenhum drama, mas vai obrigá-las a ganhar outras competências, havendo já muitos e bons exemplos de empresas do setor com operações cada vez mais intensas na margem sul do Mediterrâneo, no Leste europeu ou até na Ásia. Nada de estranho: basta olhar para a Europa dos últimos 30 anos para perceber que a história se vai repetir. Importa é não perder o know-how, as competências e o domínio do produto, o que significa conservar o centro de decisões, complementando-o com mais serviço, mais foco no cliente, mais mercado global e orientação ao crescimento das margens.

A primeira década do século foi para a ITV portuguesa de resistência para sobreviver, a segunda foi de recuperação, mas a terceira terá de ser forçosamente de crescimento, pelo valor e pelas margens.

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