COMÉRCIO EXTERNO ITV: 5 CONCLUSÕES
T33 Junho 18

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP e Editor do T
O

s dados de comércio externo do primeiro trimestre de 2018, embora ainda não suficientes para formar uma tendência para o ano, transmitem-nos algumas indicações que devemos ter em conta e que serão fundamentais para perceber a evolução que a Indústria Têxtil e Vestuário portuguesa irá seguir a curto e médio prazo.

Primeira conclusão: não há crescimento das exportações do sector em geral, embora o têxtil evidencie progressão (+3%) e o vestuário queda (-1,7%), em especial o de tecido (teia e trama).

Segunda conclusão: quebra acentuada nas vendas para o mercado espanhol (- 8%), que já tinha sinalizado ligeira perda de quota no ano transacto, mas que confirmou agora a tendência negativa, resultado de uma diminuição das compras do grupo INDITEX em Portugal, mas, igualmente, por um decréscimo generalizado (segundo informação obtida no INE espanhol) de importações daquele país de quase todos os seus principais fornecedores, com exceção da Turquia, que, embora crescendo, não compensa a diminuição dos restantes; quebra igualmente importante, e continuada de há dois anos até agora, do Reino Unido, em consequência direta do BREXIT.

Terceira conclusão: forte crescimento das exportações para Itália (+26%), Holanda (+7%) e França (+6%), que particamente compensam a perda de Espanha, aumentando quotas de mercado, sendo que se tratam de destinos exigentes e de compradores de alto valor acrescentado, portanto mais em linha com o novo perfil e estratégia da ITV portuguesa.

Quarta conclusão: dificuldades no ritmo de crescimento das exportações portuguesas, nomeadamente no que respeita ao vestuário, que representa 60% de tudo que exportamos na fileira, claramente com dificuldades na concorrência internacional com a Turquia, que tem vindo a ganhar competitividade adicional de imediato com a desvalorização agressiva da moeda, a lira turca, traindo essencialmente as marcas que desesperadamente procuram margem no retalho, como parece ser o caso das da INDITEX.

Quinta conclusão: podemos estar a chegar a um fim de ciclo de expansão no principal mercado externo da ITV portuguesa que é a Europa, já que os indicadores avançados antecipam um arrefecimento geral no crescimento e no consumo, para lá de alguns riscos relativos a países particulares como é o caso de Itália, em que a situação política pode vir a influenciar a prazo a conjuntura económica, sem olvidar aqui os desequilíbrios macroeconómicos que o país apresenta, incluindo a questão da dívida pública. Recorde-se que este é o destino das exportações da ITV portuguesa que está a crescer mais e a compensar as quebras da Espanha, com transferências de quotas de mercado externo, o que deverá exigir das empresas cuidados acrescidos e esforços de diversificação ainda mais aturados.

Importa, todavia, sublinhar que um trimestre não constitui uma indicação suficiente segura para se trabalhar prospectivamente todo um ano, embora sinalize algumas conclusões como as que atrás se avançaram. As dificuldades são matéria do nosso dia-a-dia, o gatilho para a criatividade e a inovação, e o contexto para se evoluir e crescer em todos os domínios, pelo que a ITV portuguesa as deverá enfrentar com serenidade e expectativa, sempre com atitude positiva e proactiva, tendo presente que, hoje, está claramente mais bem preparada para competir globalmente do que há 15 anos atrás, quando os choques competitivos da globalização e da liberalização do comércio têxtil e internacional a atingiram de forma dramática e quase fatal.

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