A NOVA VAGA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E VESTUÁRIO
T30 Março 2018

João Costa

Presidente da Associação Selectiva Moda e Vice-Presidente da ATP
S

e há setores de atividade que estão submetidos a uma pressão constante para responder a novas exigências e desenvolver novas soluções, o Setor Têxtil e Vestuário (STV) é, eminentemente, um dos mais expostos a esses desafios de competitividade.

No domínio do uso pessoal e da Moda, que ele próprio estimula e impulsiona, está sujeito a uma grande volatilidade dos gostos e preferências dos consumidores, a quem é preciso oferecer regularmente, e com grande dinamismo, novos produtos de seletiva e distintiva diferenciação, que atraiam e cativem o seu interesse e motivem a compra.

Nos outros domínios, e são muitos – uniformes, vestuário e equipamentos de alta performance para uso desportivo e de proteção em atividades de alto risco, casa (cama, banho, mesa, decoração e conforto), saúde, indústria automóvel, aeronáutica e naval, cordoaria e redes, construção civil, materiais, estruturas e produtos de elevada tenacidade para múltiplas utilizações -, tem de ter um apurado e aprofundado sentido de investigação, inovação e desenvolvimento tecnológico.

Para responder às acutilantes exigências da competitividade pelo valor – patamar para que tende cada vez mais o STV português, e para onde é necessário e desejável que caminhe de modo determinado -, o grande desafio que se lhe coloca, cada dia com maior intensidade, é o da atração e consecução de recursos humanos, em número suficiente e com as qualificações adequadas.

Porém, se, para as qualificações de mais longa e mais elevada exigência formativa – de maior incidência técnica ou criativa -, as condições remuneratórias e de estatuto, profissional e social, se apresentam cada vez mais atrativas e motivadoras, o mesmo não poderá dizer-se para as qualificações onde ainda é elevada a intensidade de mão-de-obra, como é o caso da confeção. Porque nessa atividade, como em todas as de mão-de-obra intensiva, o custo do fator trabalho tem um peso muito significativo na formação do preço dos produtos, especialmente nos de maior volume e de preço mais combativo.

Nestas circunstâncias, por que a concorrência atual do STV se desenvolve a nível mundial, e por que ainda há muitas regiões do globo onde os custos da mão-de-obra são incomparavelmente menores do que nos países mais desenvolvidos e em patamares sociais mais elevados, o maior de todos os desafios da atualidade e do futuro próximo é o da crescente automatização da confeção, que torne possível uma redução radical da utilização direta de mão-de-obra nas atividades de costura.

E, como foi possível observar em algumas das comunicações na recente Conferência Internacional do STV – iTechStyle Summit -, promovida e organizada pelo CITEVE, e em parceria com a SELECTIVA MODA – em que participaram oradores e profissionais de 21 países, com natural predominância de profissionais, académicos e estudantes portugueses -, esta é uma preocupação que assume cada vez mais relevância, e motiva, acicata e impulsiona a procura de soluções tecnológicas apropriadas.

Será, com certeza, uma das vertentes mais importantes desta nova vaga industrial, denominada Indústria 4.0. E representa a evolução necessária para melhorar, estruturalmente, em Portugal e na Europa, a competitividade global do STV e a indispensável resolução da insuficiência de recursos humanos para nele trabalharem.

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