A imprevisível previsibilidade
T16 Janeiro 2017

Artur Soutinho

CEO do grupo MoreTextile
O

processo mais difícil na gestão é o de entender o que poderá acontecer na economia que influenciará positivamente ou negativamente os negócios. Todas as decisões, como as mais simples de comprar ou vender, são tomadas com base em pressupostos de que no futuro próximo venderia ou compraria melhor ou pior. Esta simples decisão final, é composta por milhares de interações prévias, nas quais procuramos controlar as variáveis que afectam a decisão, sendo elas endógenas ou exógenas. Se é obrigação controlarmos as variáveis endógenas, já as exógenas estão fora do nosso controlo. No entanto, todos sabemos que uma boa previsão vai determinar os resultados, o crescimento e o sucesso de um negócio.

O sector têxtil é um bom exemplo da importância de uma boa previsão, sendo uma actividade em concorrência global, dependente do valor de commodities como o algodão e a energia, da relação cambial e de medidas mais ou menos protecionistas de alguns países. É um sem número de variáveis que no final poderão ser favoráveis ou desfavoráveis e, que por isso, vale bem a pena discutirmos um pouco as impressões que temos sobre o que vai acontecer em 2017.

1. Algodão. Sendo uma commodity com elevada volatilidade, não parecem existir condições para variações extremas. A área de plantio está estável, outras fibras têm taxas de crescimento superiores ao algodão e a actual volatilidade do dólar tenderá a corrigir o preço do algodão.

2. Energia. Não há falta de combustíveis fósseis. As reservas de petróleo são excedentárias e é este excesso de oferta que fará com que o preço do petróleo não suba. Algum movimento de subida, será de imediato corrigido pela reactivação de explorações relativamente mais caras. Dificilmente haverá algum acordo estável sobre preços dos produtores de petróleo que hoje têm interesses muito divergentes.

3. Cambial – a relação dólar/euro e dólar/yuan. A valorização do dólar é hoje algo de estrutural. Estamos perante um novo patamar do dólar que veio para ficar. Uma política americana com mais estímulos à economia, aumentando a liquidez, levará a uma subida das taxas de juro, pelo que o dólar atingir a paridade com o euro, é algo possível mas não sustentável. Quanto ao yuan, a relação cambial será mais de natureza política e do maior ou menor grau de entendimento com os EUA.

4. Estabilidade política. Sem dúvida que as convulsões sociais e políticas no norte de África e Médio Oriente tem favorecido a posição competitiva de Portugal. A recente instabilidade na Turquia veio para ficar, sendo previsível que se assista a um crescendo de atentados e congelamento da democracia. Sendo a Turquia membro da NATO e estando às portas da Europa, sem dúvida que a estabilidade desta região será a principal preocupação do Ocidente.

5. Refugiados. A crise dos refugiados e um crescimento económico débil, levam ao crescimento das vozes que propõem o fecho ou a uma maior regulação das fronteiras.
O Brexit veio mostrar que é possível regredir substancialmente nas políticas de abertura, de espaços de comércio livre e numa globalização acelerada. Um pequeno país como Portugal, poderá beneficiar no curto-prazo se nos mantivemos na UE e no euro. Somos um país competitivo quando nos comparamos com os parceiros europeus, pelo que o interesse de investidores pelas capacidades industriais existentes será uma realidade expectável. No médio prazo, medidas protecionistas serão sem dúvida, limitadoras do crescimento económico global, um factor de atraso tecnológico e uma diminuição das medidas que promovem a sustentabilidade.

6. Trump, Putin e Merkel. Um Putin a ganhar influência no mundo, deverá ver reduzidas as sanções económicas do Ocidente e melhorará o desempenho de uma economia russa baseada em commodities e estruturalmente frágil. Trump terá no curto-prazo um efeito positivo, pelas políticas de redução do peso fiscal, aumento do crédito e investimento público. Com tanto estímulo a uma economia em pleno emprego, as restrições à imigração levarão a tensões inflacionistas dos salários, com a correspondente perda de competividade da economia americana. Merkel terá um papel determinante na coesão da UE, num momento em que se assiste ao crescimento de movimentos anti-Europa. Uma Europa sem coesão, sem uma estratégia e liderança clara (Merkel), será preocupante, pelo que as eleições alemãs se apresentam como o factor chave das previsões para 2017.

7. Tweets. Tudo o que se disse nos pontos anteriores, mostram que o ano de 2017 é bastante previsível e pode ser um ano bom para a ITV portuguesa. Há, no entanto, uma nova arma que pela facilidade de uso, pelo baixíssimo custo e alcance global, poderá ser extremamente letal – o tweet. Uma medida importante na defesa da democracia, comércio internacional e crescimento económico, será desinstalar a app do smartphone do presidente eleito dos EUA, de forma a que as previsões não sejam imprevisíveis.

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