Vamos circular a economia!
T11 julho/agosto 2016

Maria José Carvalho

Diretora do Departamento de Produção Sustentável do CITEVE
D

esengane-se quem pense que isto significa “contornar” a economia. O que se pretende mesmo é passar de uma economia linear para uma economia circular. Mas, se é mais fácil andar em linha reta do que em curvas, porque não manter a economia no caminho mais fácil?

Parece-me que é principalmente porque o caminho em linha reta começa a ter muitos “buracos”, e de difícil reparação. Senão vejamos: o modelo linear da economia que inclui, de modo simplista, as fases extrair, fabricar, consumir e deitar fora, desenvolveu-se com base nos pressupostos de que os recursos estão disponíveis, quer em quantidade (abundantes), quer em acessibilidade (fáceis de obter), e que até rejeitá-los é fácil e barato.

O problema é que a realidade desses pressupostos está a mudar devido, entre outros, ao aumento de pressão sobre os recursos disponíveis, às alterações ambientais, em especial as climáticas, ao curto tempo de vida dos aterros e à quantidade de espaço ocupado, e ainda, no caso do setor têxtil e do vestuário da Europa, à dependência de fontes de aprovisionamento fora da Europa, aumentando os níveis de incerteza e insegurança em relação a um aprovisionamento constante e fiável.

Como resposta a esta mudança, surge o modelo de economia circular, que inclui as fases de obtenção da matéria-prima, concepção, produção/retransformação, distribuição, consumo/ uso/ reutilização/ reparação, recolha e reciclagem, num ciclo fechado, sendo que, a cada fase, devem estar associadas oportunidades de redução do uso de recursos e das suas perdas, utilização de recursos (incluindo energéticos) renováveis e recicláveis, bem como a redução da quantidade e nocividade das emissões para o ambiente (águas residuais, emissões atmosféricas, resíduos, etc.).

Assim, na economia circular, a eficiência dos processos é baseada na lógica de ciclo de vida dos produtos e aplicada ao longo de toda a cadeia de valor, podendo incluir medidas para:

  • reduzir a quantidade de materiais e energia necessária para fazer o mesmo produto;
  • substituir os materiais classificados como perigosos por não perigosos ou, no mínimo, com menor nível de perigosidade;
  • reutilizar e reciclar os recursos usados nos processos (água, matéria-prima, energia, produtos químicos, etc.);
  • recorrer a energias renováveis;
  • utilizar meios de transporte menos poluentes;
  • aumentar a durabilidade dos produtos;
  • desenvolver produtos que possam ser reparados, reutilizados, retransformados ou reciclados;
  • minimizar a necessidade de recursos materiais e energéticos, na fase de utilização dos produtos (uso e manutenção);
  • melhorar os sistemas de triagem de resíduos gerados.

Muitas das medidas já foram implementadas e deram provas de bons resultados. O desafio da economia circular é que essas medidas sejam aplicadas de forma sistemática e que exista um incremento das simbioses industriais. É, por isso, essencial uma mudança de mentalidades e comportamentos, por parte dos empresários, do sistema financeiro e dos consumidores.

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