Vale a pena trabalhar na têxtil
T32 Maio 2018

José Armindo Ferraz

Membro da direção da ATP
A

falta de mão-de-obra especializada é um dos principais problemas (senão mesmo o maior.. ) que afligem a nossa indústria e preocupam os seus empresários. Os investimentos são feitos, as unidades de produção montadas e abundam as encomendas  – que a serem concretizadas conseguem manter ou até aumentar a capacidade produtiva das empresas. A única coisa em falta é capital humano que leve a bom porto as oportunidade que se apresentam.

A questão parece ser de fácil resolução: se falta mão-de-obra especializada, é tratar de a especializar. No entanto, essa tarefa é tudo menos fácil. As empresas interessam-se em dar formação, mas encontrar quem esteja disposto a querer ser formado é raro. E quando se consegue levar a formação até ao fim, na maioria dos casos o formando raramente permanece no setor, preferindo trabalhar noutro ramo ou emigrar.

A questão dos salários tem também peso nesta escolha: as expectativas dos trabalhadores são sempre de receber salários demasiado elevados, mesmo numa fase inicial. E, na esmagadora dos casos, a capacidade resposta das empresas não é compatível com essas expectativas.

No entanto, não me parece que esta escassez de mão-de-obra se prenda inteiramente coma falta de interesse pelo sector. Não podemos esquecer que nos últimos anos muitos portugueses foram obrigados a procurar trabalho fora do país e ainda não regressaram – talvez nunca mais regressem.

A própria conjuntura da sociedade portuguesa também sofreu alterações: vivemos um país envelhecido, com uma taxa de natalidade que está entre as mais baixas da Europa e a estrutura familiar sofreu alterações profundas. Atualmente a realidade dominante são as famílias sem filhos ou com um só filho  – e são raríssimas as que vão além dos dois.

Face a esta situação, só resta nos resta tentar encontrar soluções alternativas, se queremos continuar a laborar e evitar o fecho de portas. Uma das soluções parece passar pela importação de mão-de-obra qualificada, algo que eu próprio já fiz mas que também apresenta as suas dificuldades. A burocracia à qual o empregador tem de se submeter para trazer um trabalhador para Portugal é tão avassaladora que pode desencorajar os empresários e demorar meses a ser resolvida. Uma revisão governamental que acelerasse o processo poderia ser muito benéfica neste caso.

Outra opção passa pela deslocalização das unidades fabris para outros países, o que também se apresenta como uma opção difícil: a empresa ganha capacidade de resposta e não perde o cliente, mas perde a etiqueta Made in Portugal. E é com felicidade que podemos dizer que perder esse cunho é, atualmente, uma grande desvantagem.

Perante este panorama, resta-me ter esperança que as novas gerações se sintam motivadas pelo crescimento incrível que o têxtil está a ter no nosso país e que vejam o trabalho no sector como algo com pernas para andar e no qual vale a pena investir. A etiqueta Made in Portugal é hoje, sem dúvida, um sinónimo de qualidade e algo de que as pessoas se podem orgulhar.  É urgente passar a mensagem de que vale a pena trabalhar na têxtil.

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