UM CICLO COMPLEXO E PLENO DE OPORTUNIDADES
T47 - Outubro

Paulo Vaz

Diretor Geral da ATP
e Editor do T
N

um mundo em mudança, quem  permanece no mesmo sítio fica para trás.

O sector têxtil e vestuário português compreendeu esta verdade pungente no grande choque competitivo resultante da liberalização do comércio têxtil global em 2005, e teve de voltar a experimentar da mesma receita quando a crise económica e financeira global, originada pelo “subprime” norte-americano, sobreveio em 2008, provocando uma crise de consumo generalizada e que se concluiu com a depuração da fileira através do desaparecimento das empresas menos preparadas para esses desafios extremos.

Estamos no limiar de algo novo, que ainda é difícil de caracterizar, mas que determinará certamente consequências semelhantes às que se registaram na primeira década do século.

Sabemos apenas que o modelo de negócio do “fast fashion” está em crise e que as empresas que o lideravam estão em dificuldades para o reinventar e lhe dar continuidade. Sabemos que o comércio “on line” ganha quota constantemente ao comércio tradicional “off line”, mas também sabemos que um não sobreviverá sem outro, numa lógica de omnicanalidade.

Sabemos que a sustentabilidade (e a economia circular) deixou de ser um jargão ativista – e politicamente correto – para se tornar “mainstream” e adotado por todas as marcas como exigência estrutural no seu conceito, modelo de negócio e funcionamento, abrindo oportunidades em toda a cadeia de valor, da conceção dos produtos à produção, passando obviamente pela logística e comunicação.

Sabemos também que, por força do que atrás se referiu, a que se acrescenta um contexto de antecipação de crise económica generalizada dentro de breves anos, se estão já a verificar quebras no consumo de artigos de moda, especialmente nos países desenvolvidos, que vão forçosamente determinar um repensar de todo o negócio e, por ventura, a sua reinvenção.

Sabemos que a indústria têxtil e vestuário portuguesa realizou uma profunda purga de toda a sua capacidade produtiva há cerca de uma década, que as empresas que sobreviveram estão mais fortes e preparadas para os desafios globais, que realizaram importantes investimentos nos mais diversos domínios, desde os equipamentos à capacitação dos seus quadros e competências, e, que, também por isso, se encontram mais pressionadas a realizar o seu retorno e satisfazer os compromissos de natureza financeira que possibilitaram a modernização.

Trata-se de um quadro complexo, que esta análise superficial apenas aflora, mas que está perante nós e será determinante para que o novo ciclo prossiga o crescimento do passado recente ou o interrompa com consequências difíceis de avaliar.

Será isto que iremos presenciar nos próximos anos, num contexto internacional marcado pela incerteza, pela volatilidade e pelos conflitos geoeconómicos, de que a “guerra comercial” entre EUA e China será apenas um exemplo. Uma conjuntura instável não é necessariamente negativa, pois abre oportunidades de negócio inesperadas, para as quais os operadores económicos têm de estar atentos e capazes de atuar.

A Indústria Têxtil e Vestuário portuguesa enfrentou, no passado recente, ameaças mais graves, tidas como impossíveis de superar, e venceu-as. Temos todas as condições para que a história se repita mais uma vez com sucesso, desde que haja voluntarismo, audácia, tenacidade e resiliência. É nisso que confio!

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