Transportes marítimos e contentores
T65 - Setembro 2021

João Peres Guimarães

Membro do Conselho Consultivo da ATP
C

omo se justifica que o preço de transporte de um contentor de 40 pés tenha passado de uns 4 mil para 14 mil dólares em menos de um ano? Estamos a ser afetados com o agravamento dos custos dos transportes marítimos, a duração das viagens e a falta de contentores. Como se chegou até esta situação que parece contraditória, já que num período de menores transações a oferta de transportes deveria ser maior e os preços deveriam descer? 

Por regra os navios têm uma vida útil de 40 anos, depois os custos de manutenção superam os ganhos e são abatidos. Quanto mais antigos mais ineficientes, mais combustível consomem e mais tripulação necessitam, sendo estes os seus maiores custos operacionais.

A tendência é produzir navios cada vez maiores que são mais eficientes, muito mais automáticos e operam com uma tripulação reduzida. Os mais recentes atingem os 360 mts de comprimento e transportam cerca de 380 Kton de carga. Uma outra categoria, menor para poder transitar pelo canal do Panamá, possui menos de 275 mts e carrega cerca de 100 Kton.


A pandemia veio alterar completamente a vida das sociedades. Os vários confinamentos conduziram a uma redução significativa das transações e necessidade de transportes. Como inicialmente o preço do petróleo caiu a pique, chegando mesmo a valores negativos, começaram-se a usar navios mais pequenos em razão da menor procura. Mas quando em meados do ano passado os preços dos combustíveis recuperaram, a vantagem desapareceu e regressou-se à utilização de barcos maiores.


Como as necessidades de transporte eram menores reduziu-se a velocidade de cruzeiro o que permite poupar no combustível, e esta foi a primeira razão para o aumento do tempo de transporte.


Por outro lado, a pandemia obrigou a controles sucessivos em alguns portos de passagem: mais tempo perdido. Entretanto o movimento de cargas foi prejudicado pelas faltas ao trabalho dos funcionários nas docas, em razão da doença e dos confinamentos: terceira razão para atrasos.


Mas também a evolução diferenciada da pandemia entre a China e o Ocidente afetou o normal fluxo de cargas deixando contentores vazios de um lado que faltavam no outro. Mais atrasos e maiores custos.


Para piorar a situação a solução da China para manter a sua economia em funcionamento e manter os postos de trabalho foi investir massivamente em infraestruturas. Isto aumentou de tal modo a procura de ferro que este triplicou de preço, numa altura em que os transportes marítimos estavam em baixa e os seus navios mais velhos e mais custosos em termos de operação estavam parados.


O resultado foi aproveitar o aumento dos custo do ferro para antecipar o envio dos barcos para sucata e fazer algum capital que permitisse aguentar as perdas devidas à falta de atividade, na expectativa de os virem a trocar por navios maiores, mais eficientes e de operação mais barata quando a economia global recuperasse. Largas centenas de navios fizeram a sua viagem final até Chittagong, no Bangladesh, onde esta operação é menos dispendiosa.


Com a melhoria das economias a procura de transportes aumentou, mas agora não há barcos disponíveis. A tendência na descida da velocidade dos navios é para manter já que os benefícios no combustível superam os custos no pessoal e a pressão para reduzir a poluição  é grande.


A questão da movimentação e congestão dos contentores está longe de ser resolvida pois está fora de questão fazer o transporte de contentores vazios.


A médio ou longo prazo a tendência será para que as coisas normalizem e os transportes até desçam de preço, com navios maiores, tripulações menores e motores mais eficientes. Mas infelizmente os especialistas acham que antes de 2023 a situação não se reverterá.

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