João Nuno Oliveira
hega aquele dia em que lhe pedem para falar de Indústria 4.0 (i4.0) e surgem aquelas dúvidas que tornam o chão que pisa mais movediço. É normal, uma vez que os conceitos e as práticas ainda não estão sólidos.
Vamos por partes e usar a sua empresa como referência. Vagueia pela sua empresa e deite fora tudo o que são computadores, tablets e telemóveis, websites e os emails. A sua empresa pode continuar a operar e a prosperar? Não (se respondeu sim, há um problema). Chegamos à primeira conclusão: a transformação digital da sua empresa já não é de agora. Bom, mas o que se passa agora é diferente. As tecnologias da i4.0 são mais poderosas e estão acessíveis no mercado. A arte de transformar um custo num investimento é fazer a integração dos processos de negócio com as tecnologias, numa única unidade.
Uma vez mais, vagueie pela empresa, pense nos seus colaboradores, nas reuniões e no trabalho das equipas, e identifique alguma mudança recente e pense nas tecnologias de informação que estão na sua base. Encontrou algo? Se sim, a sua empresa está a transformar-se digitalmente. Segunda conclusão: a i4.0 é transformar a forma como a empresa trabalha, é prosperar ao nível dos processos pela adoção de tecnologia.
Vamos olhar para o futuro. Reflita e identifique uma ou mais iniciativas de melhoria que estejam em curso na sua empresa. Se identificou pelo menos um atual e um futuro, isso é bom, significa que existe um roadmap ou caminho para a melhoria. Se não lhe ocorreu nenhum, então algo não está bem.
Terceira conclusão: para a i4.0 é preciso ter um plano, no qual são identificados as áreas prioritárias e os projetos de melhoria a desenvolver. Se souber descrever as tecnologias que estão nesses projetos, tanto melhor. Poderá ser a utilização de etiquetas RFID ou de tablets junto dos operadores, a recolha e a partilha de indicadores de produtividade, realidade aumentada, novas ferramentas de gestão da produção, entre outras.
Vamos agora saltar para o conceito de transformação digital. O que poderia fazer de diferente em várias áreas? Vamos começar pelos colaboradores: as equipas poderiam ser mais autónomas? Há partilha de objetivos e de indicadores com os colaboradores? Os colaboradores contribuem para a melhoria contínua? Passamos ao impacto ambiental: sabe qual é a carga ambiental que a sua operação adiciona? Tem planeado ações para a diminuir? Agora a digitalização: é complicado ter informação precisa sobre o estado de uma ordem de produção? Quanto papel ainda é usado na fábrica? Como é que se liga aos fornecedores e clientes? Máquinas e equipamento: tira partido completo dos equipamentos industriais que tem? Os operadores estão devidamente capacitados? É possível extrair dados das máquinas? Olhando para a produção: todos os colaboradores têm acesso a indicadores da produção em tempo real? Qual o peso da não qualidade na empresa? Tempo para a engenharia: qual o grau de conflito entre os departamentos de design/comercial e a produção? Cometem-se erros antigos nas novas encomendas?
Por último, ecossistema: que parcerias tem com escolas, entidades de I&D ou fabricantes de equipamento? Conhece os clientes dos seus clientes? Resumindo: selecione duas áreas que mais importância têm e envolva na discussão os seus colaboradores.
Última conclusão: a tecnologia é um potenciador na transformação, em todas as áreas. Muito provavelmente, a resposta para cada pergunta implica adotar tecnologias de informação, as da i4.0. É assim a transformação digital.