iTechStyle: um evento que marca
T84 - Junho 23

Joana Oliveira

Diretora de Marketing da Adalberto
É

sempre surpreendente conhecer as melhores práticas da indústria têxtil portuguesa, não só do ponto de vista de evolução tecnológica e eficiência de processos, mas também do ponto de vista de desenvolvimento de produtos inovadores que aliam performance à preocupação pela pegada ambiental, que deixam no decorrer da sua produção. 

Correlacionar estas boas práticas com a investigação científica e outras áreas tecnológicas permite-nos, estar um passo à frente, quando comparados a outras regiões que competem essencialmente pelo preço. É gratificante perceber que queremos aportar valor ao mercado através da inovação e mais do que isso, queremos liderar pela diferenciação.

No decorrer do evento, foram abordados vários temas de extrema relevância para o nosso setor. Desde a análise de tendências, à inteligência artificial e machine learning e de como podemos utilizar estas ferramentas a nosso favor, à rastreabilidade do que produzimos através de blockchain para garantir a veracidade da informação que passamos ao consumidor, passando pelas etiquetas digitais inteligentes, foram alguns dos tópicos que logo, à partida, me suscitaram bastante curiosidade.  De seguida, a escassez dos recursos comumente utilizados na indústria têxtil e a necessidade de nos reinventarmos através de novas fibras eco-responsáveis, sejam estas provenientes do reaproveitamento de desperdícios de outras indústrias ou da circularidade dos materiais têxteis, foram, sem dúvida, outros temas que deram que falar. 

É interessante ver que todos estes pontos culminam no mesmo fim: a apresentação ao mercado de soluções têxteis duradouras, em que no decorrer do seu processo produtivo consumam a menor quantidade de recursos possível, que sejam passíveis de serem rastreadas, e no seu fim de vida, serem reutilizadas ou recicladas. 

A mensagem de que estamos a viver numa época verdadeiramente determinante para o futuro do planeta Terra e da Humanidade, tal e qual como os conhecemos, foi, de facto, transmitida. 

Ainda assim, é curioso que, no decorrer desta consciencialização da mudança de hábitos, temos vindo a assistir, por um lado, a uma crescente vontade em conhecer a rastreabilidade das nossas roupas até à origem da fibra mas, por outro, o desenfreado consumo de produtos quase descartáveis após a primeira utilização contínua a crescer… 

É neste ponto em que me debato muitas vezes sobre qual o meu papel enquanto consumidora, qual o papel da indústria têxtil e, igualmente importante, o papel das entidades reguladoras e governamentais. Parece-me fundamental que haja um equilíbrio de responsabilidade entre todos, para chegarmos ao fim pretendido: atingir as metas definidas pelas Nações Unidas, para cada um dos SDG, até 2030.

Há ainda um longo caminho pela frente: o caminho da informação, da educação e da responsabilização.

É urgente a definição e uniformização de processos para a implementação da etiqueta inteligente, o passaporte digital para produto europeu (DPP). Só assim podemos dotar o consumidor da informação necessária à tomada de decisão para a compra consciente, enquanto incentivamos as marcas a mudarem a sua abordagem ao mercado de forma a se tornarem mais responsáveis e transparentes. 

Ainda assim há algumas questões que se levantam neste processo. A primeira de todas é o que fazer com o produto que é importado para a Europa? Como é que garantimos a veracidade das informações, se é que as conseguimos ter na totalidade? É possível taxar este tipo de produtos à entrada do mercado europeu? Que outro tipo de ações ou restrições se podem aplicar às empresas, marcas e/ou produtos para que haja uma responsabilização por práticas menos sustentáveis? E os consumidores, na sua generalidade, estão preparados para estas mudanças de hábitos? 

Há muitos campos de batalha no que diz respeito a este tema e, mais uma vez Portugal está na linha da frente com projetos como o be@t ou o Giatex que procuram encontrar formas de dar resposta às questões colocadas, entre muitas outras, que certamente não serão só minhas. 

Este tipo de projetos são fundamentais à mudança cultural. E, é necessária consistência na abordagem e coerência nas mensagens: we need to walk the talk!

Os projetos têm que ser verdadeiramente genuínos para gerar confiança, credibilidade e torná-los contagiantes aos consumidores, às marcas e a todos os envolvidos nos processos produtivos. 

É importante passar a mensagem de que todos temos um papel ativo nesta mudança! E tal como o autor Alec Leach comentou no podcast do BoF, “we don’t need a few people to be perfect, we need millions of people to be better.”  

Acredito que, juntos faremos a diferença, não só pela nossa indústria, acima de tudo pelo nosso planeta.

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