ENERGIA EM ROTA FAVORÁVEL
T81 - Março 23

João Costa

Presidente da ASM / Membro do Conselho Estratégico Nacional da Energia (CIP) e do Conselho Consultivo da ERSE
D

esde o seu pico máximo de € 320 por MWh, em agosto de 2022, que o preço do GN tem vindo, com altos e baixos de períodos curtos, em sistemática trajetória descendente, abaixo de 50€ por MWh desde meados de fevereiro e um mínimo de 38€ em 20/03/2023. Idêntico comportamento, embora com descida menos pronunciada, teve o preço da eletricidade, que, desde os seus máximos de 2021/2022, na ordem de 360€ por MWh, tem andado, em geral, abaixo de 150€ desde janeiro/23.

Para a descida do preço da eletricidade contribuiu fortemente, devido às condições climáticas, o aumento da produção hídrica e eólica a partir de dezembro de 2022, e também o preço da GN. E para a descida do preço do GN contribuiu a sua menor utilização na produção de eletricidade, o menor consumo doméstico por efeito de um Inverno mais ameno, o menor consumo industrial por efeito da sua substituição, e a política de compras de GN da UE. Em Espanha, a procura de GN teve uma queda de 22% nos meses de agosto/22 a janeiro/23, por comparação com o consumo médio do período homólogo dos últimos cinco anos. Está estabelecida a tendência de substituição do gás por outras fontes de energia.

E essa substituição é particularmente visível no domínio da indústria, onde isso é possível, pelo investimento crescente em sistemas de biomassa, o que em muito tem contribuído para a redução dos consumos de GN. A indústria têxtil, especialmente as tinturarias e acabamentos, tem vindo a realizar significativos investimentos nessa área. E, ao investimento na redução do consumo de GN, junta-se outro também de relevante importância. Trata-se do investimento na produção fotovoltaica de eletricidade, que tem vindo a ser intensificado.

Para 2023, foram mobilizados 4.500 M€ para conter os preços da eletricidade, sendo 2.500 M€ provenientes do Fundo Ambiental. Estas medidas de apoio e outras similares terminarão em 2024, de acordo com a Comissão Europeia. O Ministro do Ambiente e Ação Climática anunciou, na Comissão Parlamentar de Ambiente e Energia, em 8/03/2023, um conjunto de programas e ações na área da energia que representam investimentos na ordem de 60.000 M€ (25% do PIB atual) até 2030. Capacidade Eólica: + 3.400 MW – Investimento: 4.500 M€; Capacidade Solar: + 6.400 MW – Investimento: 4.700 M€; Eólica Offshore: leilão até 10.000 MW – Investimento Expectável: 30.000 a 40.000 M€; Investimentos na Rede: 634 M€; Estratégia Nacional para o H2: Investimento de 7.000 a 9.000 M€; Eficiência Energética: Apoios de 780 M€.

Mesmo que a concretização dos investimentos fique aquém dos programas anunciados, a produção de eletricidade com utilização de fontes renováveis está a efetivar-se progressivamente. Em 2023, Portugal terá o dobro da capacidade de produção solar (fotovoltaica e térmica) de 2022, e a produção acrescida vai sentir-se especialmente no período de Verão. Em Espanha, a potência instalada para autoconsumo tem vindo a duplicar todos os anos desde 2018 – de 0,4 GW em 2018 para 5,2 GW em 2022. Em resultado desta dinâmica de investimentos, está estabelecida a tendência estrutural descendente do preço da eletricidade, o que contribuirá para a melhoria da competitividade da indústria nacional e europeia.    

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