SUSTENTABILIDADE: TENDÊNCIA E ESSÊNCIA NA ITV
T46 Setembro 19

Francisco Mesquita

Docente (co-autor, com Madeleine Müller, do livro “Admirável Moda Sustentável –vestindo um Mundo Novo”, 2018)
A

Indústria Têxtil e do Vestuário (ITV) é dinâmica, competitiva e plural, tendo sido desde sempre uma das principais atividades desenvolvidas pelo homem. Para além de cumprir o importante papel de vestir, adornar e construir significados, é transversal a várias áreas, na medida em que são testadas e colocadas em prática, ideias, sonhos, tendências, materiais, saberes e tecnologias. É, na realidade, uma indústria continuamente à procura das melhores soluções que satisfaçam um consumidor, sempre ávido por novidades funcionais, estéticas e simbólicas.

O dinamismo da ITV, a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas na produção, os novos materiais, nomeadamente fibras sintéticas introduzidas em meados do século passado, o aumento do consumo e a globalização, na última década do século XX, configuraram uma sociedade de abundância, onde a noção geral de bem-estar social ficou equiparada à acumulação de bens materiais. Movimentou somas astronómicas em investimento gerando mudanças profundas relacionadas com a produção e o consumo de massa. Entre 2000 e 2015 a produção de roupa e respetiva venda duplicou, enquanto que o fator de utilização durante esse mesmo período desceu consideravelmente [Ellen MacArthur Foundation].

Concomitantemente, a ITV tornou-se a segunda indústria mais poluidora, fruto do consumo excessivo, dos químicos utilizados no tratamento e beneficiamento das fibras, além dos tingimentos, lavagens e todos os processos durante a sua complexa cadeia. Emissões atmosféricas que contribuem para o efeito estufa derivam de muitas formas, tais como o transporte, a criação de animais (caso da lã e do couro), o tipo de fibra usada (se for poliéster a origem é o petróleo), o gasto de água e energia, a fase de uso onde já entra a responsabilidade dos consumidores e, em especial, o descarte da roupa ainda em estado de utilização, pela obsolescência estética, própria da essência efémera da moda, como já pontuou Lipovetsky.

Chegados a um ponto de quase não retorno, como alguns advogam, a reinvenção desta indústria tem vindo a acontecer nos últimos anos. Ou seja, a orientação do mercado para uma moda mais sustentável e, com ela, a necessidade no cumprimento de metodologias amigas do ambiente, socialmente justas e culturalmente aceites, já que esse novo pilar do desenvolvimento sustentável acarreta a mudança de valores da sociedade ao lidar com questões que envolvem ética e estética. Ambas estão (ou deveriam estar) indelevelmente associadas. Não resta outro caminho se não através de práticas de produção e consumo adequadas. Ou, dito de forma complementar, as opções das marcas e do consumidor devem sedimentar esse caminho. A marca, enquanto entidade responsável e ambientalmente engajada nas suas dinâmicas de produção; o consumidor, atento, exigente e consciente que as suas opções de compra contribuem para a construção de um mundo mais equilibrado.

O que se pede a todos os agentes envolvidos – marcas e consumidores – a todos nós, afinal, é que no binómio produção – compra, o ambiente, as pessoas e o custo associado, numa proporção justa, sejam as variáveis determinantes. Se o fizermos, e os sinais parecem ir nesse sentido, o legado para as gerações futuras será mais promissor.

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