Sustentabilidade na Indústria Têxtil
T69 - Janeiro 22

Nuno Oliveira

Diretor-geral da Perfil Cromático
A

sustentabilidade é um assunto que nos leva obrigatoriamente para os temas da reciclagem e da reutilização. Exige-se, portanto, por parte dos consumidores, a redução do consumo e, por parte das empresas, o bom senso no momento da decisão na aprovação dos parâmetros das encomendas durante o processo de fabrico. Estes são os outros dois temas que na minha opinião merecem ser referidos e analisados. 

A Indústria têxtil tem um forte impacto na sustentabilidade, sendo o setor da Tinturaria e Acabamentos aquele que maior responsabilidade apresenta, devido ao elevado consumo de água, energia, gás, auxiliares e corantes. Este setor tem uma importância fulcral na indústria Têxtil uma vez que é nele que se dá o enobrecimento da matéria-prima têxtil, através da aplicação da cor, aspeto, toque e características técnicas especiais. 

Infelizmente, a indústria química ainda não investiu verdadeiramente na área têxtil e com isto, nos últimos 40 anos, verificou-se uma reduzida evolução, sem grandes avanços na forma de tingir e de acabar. A evolução verificada nesta área, que nos permitiu otimizar processos, baixando consumos, deve-se essencialmente aos desenvolvimentos nas áreas da informática, mecânica, eletrónica e também à grande aposta na formação de técnicos das nossas universidades e escolas de formação.

Nos últimos 25 anos assistimos a aumentos descontrolados das capacidades instaladas, provocando uma luta sem critério pelas encomendas, originando consumos absurdos de água, eletricidade, gás, corantes e auxiliares. Verificou-se, em simultâneo, que em muitas situações o volume das encomendas tinha mais importância do que a discussão do seu preço! 

Recentemente foi publicado um estudo que dizia: “Consumimos hoje 60 vezes mais roupa do que nos anos 60”. Apesar de ser uma afirmação chocante, não fico verdadeiramente surpreendido, uma vez que ainda me lembro da roupa, dentro das famílias, passar dos mais velhos para os mais novos. Nessa altura tínhamos a sensação de que a Natureza estava mais preservada. 

Outra sensação que temos diariamente é a necessidade que todas as marcas têm de associarem os seus produtos a baixos consumos de água e energia durante o seu processo de fabrico. No entanto, constato a pouca sensibilidade para cederem ligeiramente em parâmetros como as pequenas diferenças de cor, que causam reprocessamentos e aumentos do consumo de água e energia que atingem os 70%! Os baixos consumos são um requisito obrigatório, no entanto o nosso mercado tem encomendas enormes, que em termos absolutos têm consumos verdadeiramente astronómicos. 

Temos (todos!), portanto, de ter consciência e uma atitude diferente perante este assunto. Em termos industriais as ordens de fabrico terão, no futuro, obrigatoriamente de serem menores e a preços inevitavelmente mais altos, garantindo desta forma um trabalho mais sustentável, sem colocar em causa a viabilidade do setor têxtil. É urgente o compromisso das grandes marcas em colaborar de forma mais séria e verdadeira neste campo, fazendo algumas cedências no sentido de conseguirmos juntos, atingir objetivos mais concretos. Quanto ao consumidor final, terá de ter uma atitude séria e de compromisso com o nosso planeta, não hesitando no momento da escolha entre a real necessidade e o capricho da moda.

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