Sustentabilidade e rentabilidade no têxtil e vestuário
T68 - Dezembro 2021

Ana Leopoldo Fernandes

Advogada na João Fraga de Castro & Associados
A

preocupação com o impacto ambiental que o sector têxtil provoca é algo relativamente recente, havendo ainda um longo caminho a percorrer no sentido de o tornar um sector sustentável. A indústria têxtil é a quarta indústria que causa um maior impacto ambiental, pois todo o processo, desde a produção à comercialização, tem um grande peso no ambiente. Desde logo sendo um dos sectores que mais exige o uso de matérias-primas e água, utilizando na sua maioria fibras de origem fóssil e não renováveis, químicos no processo de tingimento. 

Também um elevado consumo de energia, bem como quantidades elevadas de gases com efeito de estufa emitidas no transporte e comercialização, devido aos padrões de consumo atualmente instaurados. Consumimos demasiado, logo, produzimos demasiado, o que conduz com o descarte rápido do vestuário em aterros. 

Assim, o caminho para a sustentabilidade deste sector passará, obrigatoriamente, pela implementação de medidas conjuntas e aplicadas ao longo de todo o ciclo, e pelo envolvimento e participação activa de todos os países. 

Ainda que se opte pela utilização de matérias-primas menos poluentes, a verdade é que mesmo o cultivo destas matérias-primas implica a utilização de diversos produtos químicos, que são prejudiciais para o ambiente, pelo que, não obstante ser uma melhor alternativa à utilização de fibras de origem fóssil, tendo em conta os padrões de consumo que existem presentemente, não será esta a melhor solução para a sustentabilidade do sector. 

O futuro e a sustentabilidade da indústria têxtil passará pela chamada “economia circular” e pelo desenvolvimento de tecnologias que permitam efectuar a correcta reciclagem têxtil, transformando “lixo” em matéria-prima.

Mas, será a sustentabilidade economicamente rentável?

A grande dificuldade das empresas, no que toca à reciclagem, é a separação dos têxteis e a introdução de novos sistemas que permitam transformar os resíduos em novas matérias-primas que possam ser reintegradas no ciclo de produção, evitando assim a fabricação de novos produtos. 

Existem já alguns projectos tecnológicos desenvolvidos no sentido de facilitar este processo, no entanto, esta ainda é uma área com grande margem de progressão e, como tal, é um recurso que não é barato para as empresas, sendo ainda mais rentável o recurso a matérias-primas de origem fóssil do que o recurso a tecnologias que permitam a transformação de resíduos em matéria-prima. 

Estatisticamente, segundo dados fornecidos pela Agência Portuguesa do Ambiente, em 2019 foram produzidas em Portugal 5,281 milhões de toneladas de resíduos urbanos, sendo que 3,51% eram resíduos têxteis. Não obstante esta percentagem ter vindo sempre a diminuir em comparação com os anos anteriores, ainda é uma percentagem bastante elevada. No entanto, enquanto o reaproveitamento destes resíduos têxteis não for economicamente mais rentável do que o seu desperdício, a sustentabilidade do sector não atingirá o objectivo ideal.

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