José Manuel Castro
um ano simbólico (2020), repleto de de expectativas e projetos para tantas anunciadas transições (climáticas, sociais, profissionais, digitais), sentimos “o chão fugir-nos por debaixo dos pés” quando tivemos de enfrentar os desafios sem precedentes da Pandemia de SARS-Cov-2.
Atualmente, num aparente momento de retorno à (nova?) normalidade dos modos de trabalho e de vida, pressentimos como se complexificaram os desafios colocados aos sistemas e processos de formação profissional em contexto de trabalho/empresas. Em 2014 o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), desafiou-nos com esta afirmação: “Nunca houve pior momento para ser um trabalhador apenas com competências e aptidões comuns”.
Hoje estamos de novo face a esta urgência, procurando encontrar formas de minimizar o abrandamento dos mercados de trabalho e mitigar os seus potenciais impactos sociais e económicos.
Para alguns destes desafios civilizacionais, a formação (profissional) aparece quase sempre como a solução. Mas se é a solução, afinal qual é a questão?
Novas modalidades de aprendizagem em ambientes digitais e autogeridos? Competências (agora) essenciais: a autorregulação, o pensamento crítico, a resolução criativa de problemas complexos, a resiliência? Como é que a formação para (este) trabalho se ajustará e/ou contribuirá para um modelo de aprendizagens feitas no “chão” das novas fábricas? E como mobilizar e motivar os adultos aprendentes?
Que de propostas (soluções?) poderemos identificar acerca de formação profissional em contexto de trabalho/empresarial:
– Talvez começar por discutir a conciliação entre a realidade dos contextos de formação nas empresas e a exigência de números mínimos de formandos, nivelados em termos de qualificações e níveis socioeconómicos. Em contextos tão diversos, dinâmicos e sobretudo incertos, este modo de normalização despoleta grandes ineficiências e desperdício de recursos.
– Acentuar a necessidade de entender o direito à aprendizagem ao longo da vida no âmbito de parcerias entre entidades de um ecossistema de educação e formação, mas sem um sentido hierárquico da consagração do modelo de ensino formal. Esta “centralidade” põe em causa o valor social, pessoal e simbólico das formações e das competências de natureza profissional e tecnológica.
– Incentivar as condições para a certificação profissional no âmbito das empresas. A acentuação da (quase) exclusiva relevância e valor das creditações “escolares” desvaloriza consideravelmente esforço de trabalhadores e empresas no fomento de modelos de formação, baseados nos contextos e atividades profissionais. Daqui não resultaria “nenhum mal para o mundo” e fomentaria solidamente a progressão profissional e (até) escolar dos ativos.
– Por fim a consagração da figura do formador da (e na) empresa, seja como tutor, mentor, supervisor e, obviamente formador/facilitador de aprendizagens. Para além da a garantia da qualidade (pedagógica e profissional) dos processos de formação em contexto de trabalho, tal iniciativa fomentará o desenvolvimento de processos para a retenção/transferência de preciosas competências e saberes das próprias empresas.
Resumidamente, estes e outros passos poderiam constituir incentivos para a valorização explicita dos modelos de aprendizagem e das competências adquiridas nos contextos de trabalho, bem como (mais) um avanço na dignificação social dos projetos e programas formativos desenvolvidos em estruturas empresariais.