Portugal Fashion: a moda e a cidade
T43 - Maio 19

Graça Guedes

Professora auxiliar
do Departamento
de Engenharia Têxtil da UMinho
E

ncerrado mais um Portugal Fashion, ficam memórias no ar e fotografias um pouco por toda a parte… Opiniões e juízos diluem-se ao compasso dos dias que passam, as atenções focam-se em novos eventos que, esses sim, constituem notícia.

É momento de pensar o que realmente fica, a importância do que a “semana” de moda trouxe e o que ficou, se esfumou “nas brumas da memória” dos que participaram ou nem teve tempo de tomar forma na mente dos que do evento recolheram vagas impressões veiculadas por notícias em jornais ou na televisão.

É certo que quem mais se interessa pelos eventos de moda são os “aficionados” das marcas e dos criadores ou os que a ela se dedicam no seu dia-a-dia. Mas também todos os que apreciam o espetáculo da moda em si mesmo, usufruindo dele como um evento social, a par com muitos outros.

Independentemente das motivações, o Portugal Fashion marca momentos incontornáveis na vida da cidade do Porto, momentos importantes na moda em Portugal. E tem vindo a cumprir a sua missão de afirmar e reforçar a visibilidade da obra dos nossos designers e criadores.

Ao longo dos anos, que já se contam por dezenas, cumpriu a sua missão para além daquilo que muitos de nós pode sequer imaginar. E é, talvez, chegado o momento de refletir sobre os caminhos do futuro.

Diversos caminhos estão ensaiados ou pensados. Mas podemos pensar o futuro olhando de fora, recordando que a moda só o é se for usada, que os designers e as marcas trabalham para ver as suas peças na rua, vestidas por aqueles a quem as suas propostas seduziram, fascinaram. E que para um pequeno país como Portugal, conquistar consumidores não nacionais é vital.

Esta realidade tem sido abordada com a promoção de um conjunto selecionado de marcas e designers em semanas de moda como as de Londres, Paris e S. Paulo, entre outras. Será que o facto do Porto (e Lisboa e em geral, Portugal) capturar o interesse de milhões de visitantes por ano não constitui uma oportunidade de divulgar a moda portuguesa e, de forma mais imediata, estimular a aquisição de peças das novas coleções por consumidores que as irão vestir, deliciados, na Suécia, Alemanha, Japão e dezenas de outros países em todos os continentes?

A MODt’issimo já começou a trabalhar sobre a ideia de capturar a atenção dos visitantes estrangeiros para os têxteis nacionais, promovendo uma das suas edições anuais no aeroporto Sá Carneiro. Poderá a Semana de Moda do Porto captar a atenção e a participação de visitantes estrangeiros ou mesmo ir mais longe, associando-a ao desejo de visitar o Porto por parte de muitos?

A moda é um elemento central na economia de muitas cidades e muitos roteiros urbanos possuem informações claras sobre as ruas, as áreas das cidades em que a moda é o principal atrativo. Em Lisboa esta prática está facilitada pela concentração de designers e marcas em algumas áreas da cidade, como o Príncipe Real. No Porto a dispersão impera mas há forma de tornar a moda uma atração, senão através do apoio à criação de áreas de concentração de lojas de moda, pelo menos com a promoção de pop-ups ou outras formas mais flexíveis e criativas de atingir o público em geral e os turistas em particular.

Em qualquer caso, o Portugal Fashion é um evento de moda que pode constituir um forte atrativo para muitos. Fica a questão de estudar a melhor forma de começar, em casa, a promoção das marcas e designers portugueses… é que a promoção da moda, hoje, não depende tanto quanto outrora da imprensa: as imagens captadas nos eventos pelos presentes correm mundo antes da (o) modelo ter abandonado a passarela…

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