Luís Mira Amaral
rapidez e a dimensão dos pacotes americanos de apoio à economia contrastam com a lentidão com que na União Europeia (UE) se tenta implementar o pacote de 750 milhões de euros. O mesmo nas vacinas. Os EUA já terão vacinado cerca de 38% da sua população adulta, contra 58% no Reino Unido e apenas 14% na UE. Tal não pode deixar de ter consequências nos processos de recuperação económica e confiança nos agentes económicos.
Portugal está a atravessar a maior crise económica dos últimos cem anos com elevada destruição da atividade económica e profundas consequências sociais, colocando o PIB abaixo do PIB Potencial, devido à pandemia do Covid 19. Com o fim das moratórias, o disparo de falências e o aumento do crédito mal parado poderemos ter também problemas na banca.
E quando a Comissão Europeia voltar ao rigor do Pacto de Estabilidade, o BCE alterar a sua acomodatícia política de juros baixos e os mercados financeiros, num contexto de subidas das taxas de juro, regressarem à análise da sustentabilidade das dívidas públicas, teremos outro momento de “stress” para as nossas finanças públicas.
Teremos sido o quinto pais da União Europeia (UE) com maior queda do PIB em 2020 e estaremos entre os três (Portugal, Espanha e Itália) com maior queda conjunta no período 2020-2021. A dependência que as três economias têm do turismo ajuda a explicar essa posição relativa. Isto mostra a importância da reindustrialização do nosso país.
A nossa Indústria Têxtil e do Vestuário é essencial com o seu contributo para a nossa recuperação económica e para o nosso processo de reindustrialização a financiar pelos fundos europeus. Longe vão os tempos em que travámos no governo uma batalha contra aqueles que achavam que a ITV era obsoleta pelo facto de ser um sector tradicional. Explicávamos então que tradicional apenas significa que faz parte da nossa tradição industrial, havendo em todos os sectores empresas que se modernizam e se desenvolvem e outras que não o fazem e desaparecem.
O sucesso exportador da ITV na fase pré-Covid mostra que tínhamos razão e aí temos hoje a nossa ITV pronta para responder aos desafios das transições digital (modelo da indústria 4.0), energética e ecológica (com o modelo da economia circular). O Covid veio apenas acelerar um processo de digitalização que já existia com a crescente substituição de lojas físicas pelas lojas digitais e com o crescente recurso às tecnologias digitais em todos os segmentos da cadeia de valor.
Portugal estava relativamente atrasado antes da pandemia nas ferramentas de “e-com”, sendo necessário uma rápida implementação destas ferramentas pelas nossas empresas, designadamente nos processos de internacionalização. O desafio da economia circular vai ser crucial numa indústria que gera muitos desperdícios e o desafio da sustentabilidade não será apenas ambiental, energético, económico e financeiro, mas também de crescente transparência face a consumidores cada vez mais informados desejando conhecer as condições de operação e de produção, como e onde o produto foi feito.
A ATP está a trabalhar e bem para ajudar este importantíssimo sector industrial a vencer estes desafios implícitos na “Visão Estratégica para o Sector Têxtil e de Vestuário” que a União Europeia vai lançar.