Mário Jorge Machado
ano de 2022 ficou marcado por um conjunto de circunstâncias que vão continuar a impor grandes transformações à indústria têxtil e vestuário portuguesa e europeia e, de uma forma genérica, à economia e à indústria nacional e comunitária.
Ainda não refeitos do impacto de uma pandemia que causou grande perturbação à escala internacional, criando a disrupção das cadeias de fornecimento, afetando os preços das matérias-primas e energia, e recolocando nas agendas dos governos o tema da reindustrialização e da produção de proximidade, assistimos à eclosão na Europa de uma guerra com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, com sanções de retaliação impostas pela Europa e uma escalada sem precedentes nos preços da energia e dos combustíveis, que se estendeu aos preços das matérias-primas e alimentos, e posteriormente à generalidade de bens e serviços, determinando um exponencial aumento da inflação e uma rápida degradação da conjuntura económica global.
Em paralelo, e mais do que nunca, assistimos a um debate cada vez mais intenso da emergência ambiental, onde os temas da sustentabilidade, da circularidade e especialmente da descarbonização e transição energética, ganham mais acuidade, sendo um incontornável condicionador do desenvolvimento económico e humano futuro, e impondo constrangimentos e oportunidades também para o setor têxtil e o vestuário.
É, neste contexto, que surgiu, em março de 2022, a Comunicação da Comissão com a Estratégia Europeia para os Têxteis Sustentáveis e Circulares, integrando os compromissos do Pacto Ecológico Europeu, do Plano de Ação para a Economia Circular e da Estratégia Industrial, em simultâneo com o lançamento dos Cenários para a cocriação de um caminho de transição para um ecossistema têxtil mais resiliente, sustentável e digital, temas que estiveram em debate na Convenção da EURATEX que a ATP recebeu, em Outubro, no Porto.
É neste ambiente, incerto e volátil, de profundas transformações, que, em setembro de 2022, se realizaram eleições para os órgãos sociais da ATP para o mandato 2022-2024, um mandato que exigirá de todos uma grande capacidade de resistência e de adaptação, numa busca constante da excelência, tendo como farol a Missão da ATP que se centrará, entre outros:
➢ Luta pela defesa dos interesses do sector e das suas empresas, particularmente na melhoria das suas condições de competitividade, através dos modernos fatores críticos de competitividade, indispensáveis à diferenciação dos produtos e serviços, em concorrência global, algo nem sempre bem compreendido e promovido pelo Poder político, quase sempre desvalorizando o papel económico e social das empresas e dos empresários;
➢ Promoção e reforço de visibilidade da fileira têxtil e da moda portuguesa, no país e no exterior, enquanto sector estratégico para o país, paradigma de inovação e modernidade na tradição, e igualmente fundamental para o equilíbrio da balança comercial;
➢ Reforço da proximidade da Associação aos associados e o seu papel estruturante em toda fileira têxtil;
➢ Promoção da contratação coletiva com o objetivo de assegurar a paz social e o desenvolvimento sustentado, com uma melhor e mais equilibrada partilha de benefícios, que só o decorrente aumento da produtividade do trabalho e dos restantes recursos pode proporcionar;
Embora sendo um desafio exigente, sobretudo no contexto económico em que vivemos, vamos continuar a apostar no crescimento do setor, exigindo e implementando novas políticas para estimular o empreendedorismo, o investimento, a inovação, a sustentabilidade, mas sobretudo a criação de valor para o setor têxtil e vestuário, para que em 2030 (ou antes) possamos atingir os 10 mil milhões de euros de faturação, conforme previsto no Cenário OURO projetado pela ATP.