Por um sector mais sustentável, competitivo e gerador de crescimento
T78 - Dezembro 22

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP
O

ano de 2022 ficou marcado por um conjunto de circunstâncias que vão continuar a impor grandes transformações à indústria têxtil e vestuário portuguesa e europeia e, de uma forma genérica, à economia e à indústria nacional e comunitária.

Ainda não refeitos do impacto de uma pandemia que causou grande perturbação à escala internacional, criando a disrupção das cadeias de fornecimento, afetando os preços das matérias-primas e energia, e recolocando nas agendas dos governos o tema da reindustrialização e da produção de proximidade, assistimos à eclosão na Europa de uma guerra com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, com sanções de retaliação impostas pela Europa e uma escalada sem precedentes nos preços da energia e dos combustíveis, que se estendeu aos preços das matérias-primas e alimentos, e posteriormente à generalidade de bens e serviços, determinando um exponencial aumento da inflação e uma rápida degradação da conjuntura económica global.

Em paralelo, e mais do que nunca, assistimos a um debate cada vez mais intenso da emergência ambiental, onde os temas da sustentabilidade, da circularidade e especialmente da descarbonização e transição energética, ganham mais acuidade, sendo um incontornável condicionador do desenvolvimento económico e humano futuro, e impondo constrangimentos e oportunidades também para o setor têxtil e o vestuário.

É, neste contexto, que surgiu, em março de 2022, a Comunicação da Comissão com a Estratégia Europeia para os Têxteis Sustentáveis e Circulares, integrando os compromissos do Pacto Ecológico Europeu, do Plano de Ação para a Economia Circular e da Estratégia Industrial, em simultâneo com o lançamento dos Cenários para a cocriação de um caminho de transição para um ecossistema têxtil mais resiliente, sustentável e digital, temas que estiveram em debate na Convenção da EURATEX que a ATP recebeu, em Outubro, no Porto.

É neste ambiente, incerto e volátil, de profundas transformações, que, em setembro de 2022, se realizaram eleições para os órgãos sociais da ATP para o mandato 2022-2024, um mandato que exigirá de todos uma grande capacidade de resistência e de adaptação, numa busca constante da excelência, tendo como farol a Missão da ATP que se centrará, entre outros:

Luta pela defesa dos interesses do sector e das suas empresas, particularmente na melhoria das suas condições de competitividade, através dos modernos fatores críticos de competitividade, indispensáveis à diferenciação dos produtos e serviços, em concorrência global, algo nem sempre bem compreendido e promovido pelo Poder político, quase sempre desvalorizando o papel económico e social das empresas e dos empresários;

Promoção e reforço de visibilidade da fileira têxtil e da moda portuguesa, no país e no exterior, enquanto sector estratégico para o país, paradigma de inovação e modernidade na tradição, e igualmente fundamental para o equilíbrio da balança comercial;

Reforço da proximidade da Associação aos associados e o seu papel estruturante em toda fileira têxtil;

Promoção da contratação coletiva com o objetivo de assegurar a paz social e o desenvolvimento sustentado, com uma melhor e mais equilibrada partilha de benefícios, que só o decorrente aumento da produtividade do trabalho e dos restantes recursos pode proporcionar;

  • Desenvolvimento de atividades e iniciativas que ajudem as empresas e todos os stakeholders relevantes a investir nas prioridades estratégicas identificadas pela ATP no seu mais recente Plano Estratégico “Visão Prospetiva e Estratégias ITV 2030:
  1. DIFERENCIAÇÃO pela inovação tecnológica, criatividade, design, serviço, incrementando a oferta de valor aos clientes. Apostar em novos segmentos de mercado e novos clientes e subir na cadeia de valor. Aproveitar as oportunidades e abraçar novas tendências como a digitalização, sustentabilidade e economia circular.
  2. SUSTENTABILIDADE, apostando numa economia circular, na utilização de energias mais limpas, na seleção cuidada de matérias-primas e no uso inteligente de recursos, em métodos de produção mais eficientes e inovadores, na redução e valorização de resíduos, bem como na melhoria da transparência, rastreabilidade e avaliação do ciclo de vida dos produtos.
  3. DIGITALIZAÇÃ0 das operações na cadeia de valor, desde o design, ao retalho, incluindo produção, embalagem e distribuição, permitindo incrementar velocidade, integração, transparência e informação. Digitalização que também ajudará a ultrapassar alguns dos desafios associados à sustentabilidade (tecnologia digital de apoio à transição para a economia circular ou para promover a partilha de informação do ciclo de vida dos produtos e aumentar a transparência e a rastreabilidade na cadeia de valor).
  4. COOPERAÇÃO em toda a cadeia de valor, entre os diferentes players e a vários níveis, de forma a criar maior flexibilidade e valor, ganhar escala, desenvolver novos negócios ou novos investimentos e/ou projetos que fomentem a criação de novos produtos, novos materiais, novos processos, tecnologias, novas formas de organização do trabalho e melhoria da performance industrial. 
  5. CAPACITAÇÃO E VALORIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS através da aquisição de competências que permitam dar resposta aos novos desafios (são necessárias novas skills em toda a cadeia de valor) apostando na formação de base e na formação ao longo da vida, para todos os colaboradores. É imprescindível atrair e reter conhecimento e talento neste setor, melhorar a sua atratividade e valorizar as diferentes profissões.
  6. INTERNACIONALIZAÇÃO continuando a apostar na diversificação de mercados e de clientes, nas abordagens aos mercados, melhorando a comunicação da diferenciação e vantagens da oferta.
  7. CAPITALIZAÇÃO através do aumento do capital próprio e solvabilidade, essencial para financiar o crescimento e suportar riscos e impactos inerentes ao crescimento dos negócios.

Embora sendo um desafio exigente, sobretudo no contexto económico em que vivemos, vamos continuar a apostar no crescimento do setor, exigindo e implementando novas políticas para estimular o empreendedorismo, o investimento, a inovação, a sustentabilidade, mas sobretudo a criação de valor para o setor têxtil e vestuário, para que em 2030 (ou antes) possamos atingir os 10 mil milhões de euros de faturação, conforme previsto no Cenário OURO projetado pela ATP.

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