Perda de competitividade ameaça crescimento
T39 Dezembro 18

Paulo Melo

Presidente da ATP
O

ano de 2018 deu sinais contraditórios sobre o futuro do sector têxtil e vestuário português. Por um lado, as exportações continuaram a crescer e as empresas sentiram grandes dificuldades em encontrar pessoal para trabalhar, o que demonstra uma vitalidade objetiva e inquestionável, mas, por outro, é igualmente claro que esse crescimento perdeu dinâmica a partir de meados do ano e que a conjuntura internacional, nos nossos principais mercados de exportação, se apresenta mais incerta, antecipando dificuldades, pelo que temos de estar muito mais atentos.

A ITV nacional protagonizou um dos mais notáveis “case studies” contemporâneos, no âmbito da reindustrialização em países desenvolvidos, tendo conseguido demonstrar que é possível conciliar atividades tradicionais com inovação tecnológica e design, em que a intensidade do serviço diferencia positivamente, permitindo uma contínua ascensão na cadeia de valor; contudo é fundamental não perder de vista, que, mesmo com a tónica nos fatores críticos de competitividade, importa não descurar os fatores clássicos em que essa competitividade deve estar assente: o acesso ao financiamento e os custos do dinheiro, da mão-de-obra e da energia, assim como o ambiente fiscal favorável aos negócios.

Infelizmente, quando olhamos para os últimos anos, por diversas razões, em que pontificam opções políticas e ideológicas, assim como uma total ausência de política económica para o país, assistimos a uma constante degradação dos ditos fatores clássicos, que continuamos a entender como os alicerces da competitividade, sem que tenha havido suficiente compensação por parte capacidade dos fatores ditos críticos e diferenciadores pelo valor. Aliás, uma casa sem alicerces, por melhores paredes e mais bonito telhado que apresente, acaba por colapsar. E o pior é que, apesar de termos tido domínio nos ditos fatores críticos de competitividade, como a incorporação da moda, do design e da inovação tecnológica, não temos qualquer margem de manobra nos referidos fatores de produção clássicos, uma vez que é ao Estado ou ao poder político, dentro e fora de portas, que cabe, com maior ou menor capacidade de atuação, intervir na facilitação do acesso ao financiamento e no custo do dinheiro, no custo do trabalho e da energia, já para não falar da criação de um ambiente “business friendly”, em que a atratividade e estabilidade fiscais são preponderantes.

Tudo isto para concluir que, embora nos regozijemos por um longo ciclo de prosperidade no sector, de que as empresas são as principais responsáveis, é bom não perder de vista que o futuro é incerto e desafiante, pelo que teremos de reforçar a nossa atenção, o nosso empenho e estimular o nosso dinamismo, para enfrentar o ano de 2019, se o queremos pelo menos tão bom como os que o antecederam. Se depender apenas de nós, estou certo que conseguiremos!

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