João Nuno Oliveira
quarta revolução industrial, ou “Indústria 4.0”, vem carregada de promessas e de dificuldades, de incentivos e de chamadas de atenção. A transformação dos negócios pela utilização de tecnologia cada vez mais sofisticada é, talvez, a caracterização mais forte que se faz deste movimento, e é por isso que o termo “transformação digital” é usado como sinónimo de “indústria 4.0” (i4.0).
Mais do que um estado ou um destino, a i4.0 é um caminho ou uma jornada. Afirmar-se que já se está ou que já se chegou à i4.0 não é a forma mais interessante de integrar este movimento. A i4.0 é, mais do que a tecnologia, uma cultura e práticas organizacionais, e nem terá a mesma tradução para todas as empresas.
O tema é algo líquido, como todos já constataram. É algo que se tenta agarrar com as mãos e que teima em fugir pelos dedos. Alguns aspetos são, no entanto, relevantes para possuir uma cultura i4.0, e é para esses que este texto chama a atenção, sem prejuízo de tratar o tema por outras dimensões.
Comece-se pela junção entre tecnologia e negócio, pois na i4.0 estes dois polos de atenção estão fundidos num só, ou seja, não é possível discutir a organização sem equacionar a tecnologia e vice-versa. As iniciativas de i4.0 não são apenas de tecnologia ou de “informática”, são iniciativas que têm uma natureza e um impacto organizacional e, por conseguinte, devem ser promovidas, suportadas e lideradas pelo topo da gestão.
Continue-se pelos dados. A i4.0 é pautada por uma elevada quantidade de dados, pois com o advento da internet das coisas, a quantidade de sensores existentes e que produzem dados aumenta, sejam os sensores de uma máquina industrial, o telemóvel de um colaborador ou o sistema de localização de um veículo. Saber lidar com dados e saber fazer perguntas são competências que os colaboradores da empresa terão que ter.
Agora a experimentação. Experimentar é a forma de superar as muitas dúvidas que as iniciativas de i4.0 vão levantar. Esta abordagem implica utilizar pessoas, recursos e espaços para experimentar, implica dialogar com prestadores de serviços para validar a viabilidade de uma solução e implica gerir a experimentação como um projeto. Aliás, a i4.0 reclama uma abordagem por projeto.
Por último, a questão cultural focada na mudança. A i4.0 vai requerer mudança na organização. Para a mudança ser bem-sucedida, esta deve contar com a participação de todos. Por isso, as iniciativas de i4.0 não podem ser o produto de um departamento de tecnologias de informação e não devem ser apresentadas como um facto ou uma imposição.
A discussão sobre i4.0 valoriza frequentemente mais o papel da tecnologia. Sendo uma parte importante da equação, é necessário reconhecer que a tecnologia atua em contexto e que isso é a organização. Este texto procura equilibrar os pratos da balança, ao não abordar a internet das coisas, a inteligência artificial, a realidade aumentada e outras tecnologias e aplicações. De qualquer das formas, o têxtil e o vestuário são, e serão mais ainda no futuro, um negócio de “panos e bits”.