Pandemia no ar e um Portugal Fashion com os pés no chão
T58 - Novembro 2020

Mónica Neto

Project Manager do Portugal Fashion
F

azer um Portugal Fashion em altura de pandemia foi um desafio. Aliás, pensar num Portugal Fashion em tempo de pandemia já foi, por si só, um desafio. O que fazer, como fazer, com que rede e com que certeza?! Depois da edição de março ter sido cancelada ao fim do primeiro dia o fantasma do cancelamento manteve-se sempre.

Faria sentido ser tudo digital ou um híbrido entre o digital e o físico? Quantas pessoas poderiam assistir? Fazemos desfiles no exterior? E se a meteorologia não ajudar, que opções temos? Decidimos criar uma televisão digital, que pudesse transmitir todos os momentos criados para os três dias. Não só os desfiles, mas também as conversas, os bastidores, e tudo o que se passa durante o Portugal Fashion. Foram 25 horas de uma emissão inédita em direto contínuo.

Fechamos o evento ao público profissional, imprensa, buyers, players da indústria, parceiros setoriais, e criamos o nosso próprio plano de contingência, com o apoio do Dr. Ricardo Mexia, que foi o nosso coordenador. Fizemos figas e tudo aconteceu de forma natural, como precisávamos que fosse. Por nós e pelos designers e marcas que tanto trabalham para mostrar as suas artes ao mundo.

Decidimos “criar” vários espaços exteriores para que fosse possível realizar os desfiles com o distanciamento e a circulação de ar necessária. Foi por essa razão que fizemos dois desfiles no parque de estacionamento da Alfândega – Maria Gambina e Hugo Costa -, no Cais, junto ao rio (Estelita Mendonça, Luís Onofre e Alves/Gonçalves) e no pátio interior, que é ao ar livre, onde decorreram os desfiles do Bloom, a nossa plataforma de novos designers.

Apostamos ainda em apresentações híbridas, que tinham como base vídeos previamente gravados. As coleções de Katty Xiomara, Inês Torcato e do Concurso Bloom powered by Sonae Fashion foram apresentadas numa sala de vídeo preparada exclusivamente para o efeito. Também os vídeos das recentes participações digitais de Alexandra Moura, David Catalán e Miguel Vieira, na Semana de Moda de Milão, e da dupla Ernest W. Baker, na fashion week de Paris, tiveram na Alfândega do Porto novas dinâmicas de apresentação.

Durante os três dias de Portugal Fashion houve sempre bastante atenção à forma como os números da pandemia iam evoluindo, esperando que os aumentos e as novas restrições anunciadas pelo Governo, nas vésperas, não nos obrigassem a cancelar. Talvez tenha sido mais “pesado” e cansativo ter que gerir essa expectativa do que propriamente o trabalho que o evento deu durante os dias em que decorreu.

No final houve um sentimento de dever cumprido. Uma felicidade enorme por sabermos que, desta vez, conseguimos fazer o que é o nosso propósito e o nosso objetivo: dar voz, corpo e imagem aos nossos designers e à nossa indústria. Porque o Portugal Fashion existe por eles e para eles.

Somado a isso, a última edição do Portugal Fashion foi, também, um exemplo de como é possível fazer acontecer “as coisas” mesmo nos tempos mais difíceis. Se tivermos por base a segurança de todos e se pensarmos fora da caixa. Há sempre opções se nos deixarem sonhar e se nos deixarem fazer. É nas alturas mais complicadas que a união entre todos faz ainda mais sentido.

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