O virtual não pode substituir o real
25 Junho 18

António Souza-Cardoso

Consultor Senior
A

ATP dedica o tema do seu tão pujante e prestigiado Fórum Anual a toda a temática e influência do digital. E não pode ser mais oportuna dada a crescente importância que as ferramentas associadas ao mundo digital despertam em todo o mundo. O paradigma social adquire novas dinâmicas e a vida das pessoas, para o bem e para o mal, passa a estar “à distância de um clique”.

Mas este avanço, complemento e dinâmica, não é alternativo a nada – é apenas complementar a tudo. Explico melhor: Discute-se se, para a internacionalização das nossas empresas, continua a valer a pena a prospecção efectiva e física de novos mercados, a presença em feiras, showrooms ou certames internacionais, a promoção de Missões Inversas ou, ao contrário, se todo o processo de comunicação e de venda pode passar a sei feito a partir de um call center ou escritório qualquer para que, quase instantaneamente, o nosso produto, a nossa colecção, sejam disponibilizados aos agentes económicos a uma escala global?

Só quem não merca, no sentido estrito da palavra e apenas teoriza, no sentido lato da palavra é que se atreve a julgar que o virtual pode substituir o real no mundo dos negócios. Nunca como agora esteve tão presente o consumo sensorial ou a especialização da escolha. Nunca como agora foi tão necessária a confiança na construção de relações negociais duradouras. Fruto precisamente do mundo se ter globalizado de forma quase estonteante é, cada vez mais emergente a necessidade de cheirar, ver, provar, apalpar, ouvir …!

As consequências da mesma quase esquizofrénica globalização, obrigam-nos cada vez mais a apostar na confiança, fortaleza e estabilidade das relações que estabelecemos. Mais do que compradores ou clientes precisamos de parceiros que nos olhem nos olhos, nos apertem a mão, sejam convidados com a família para nossas casas, cruzem o plano dos interesses com o plano dos afectos. Sejam reais na nossa vida para que possamos ser também virtuais nos negócios que com eles estabelecemos.

Talvez isso explique porque é que as grandes feiras, certames e showrooms internacionais  são cada vez mais concorridos e participados. Com evoluções de conceito, de convocatória e de apresentação. Com meios técnicos e imagéticos cada vez mais sofisticados, criativos e complexos, em termos de marketing, comunicação e posicionamento do produto. E dai que se algum caminho se sugere nas políticas públicas de estímulo à economia portuguesa é certamente o de um cada vez mais sublinhado e determinante apoio a estas acções de internacionalização que o AICEP e a diplomacia económica portuguesa têm sabido levar a cabo e que devem ter condições para manter e aprofundar junto do tecido económico. Seguros que estamos que é do incremento das exportações que depende, no essencial, o desempenho da economia portuguesa.

Julgo poder dizer, com desassombro e sem a hipocrisia que por vezes adorna o “politicamente correcto” que o dinheiro público alocado à internacionalização de sectores tão dinâmicos e transversais, como o têxtil e vestuário e o agro-alimentar, é dinheiro seguramente ganho para Portugal e para os portugueses, dado o enorme efeito indutor e multiplicador que proporciona.

A Indústria 4.0 será a alavanca de futuro nos processos produtivos. Como o digital será o grande amplificador dos processos de distribuição e comercialização.

Mas as “coisas” tal como são realmente percepcionadas por profissionais ou consumidores e as pessoas, na forma como se aproximam, relacionam e interagem serão sempre, na vida e nos negócios, quem fará a diferença!

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