António de Souza-Cardoso
ou caçador e nos muitos anos que levo a calcorrear os montes do meu País, já me aconteceu algumas vezes sentir a angústia de ficar sem cartuchos. Com as perdizes a correr à nossa frente lá descobrimos no fundo dos bolsos os dois últimos cartuchos. E, naquela altura são aqueles últimos fogachos que nos restam, os decisivos para a glória da caçada. Os que ainda nos separam do sonho e da memória que faremos da jornada.
Não sei como e quem começou a dar ao PRR o nome de bazuca? Claro que o insigne pensador queria ilustrar aquilo que deve reter nossa atenção: O facto de nestes 10 anos que medeiam entre este e o final de 2029, existir a nível nacional e europeu um ciclo de disponibilização de incentivo público absolutamente extraordinário, de que as economias nacional e europeia jamais beneficiaram. Em suma, uma enorme explosão de dinheiro publico a ser injectado nas economias da UE.
Se olharmos para o que falta executar do P2020 – os últimos números apontam para mais de 35% do valor global, o PRR e o próximo quadro plurianual, estamos a falar de incentivo público por dia 5 vezes superior ao valor disponibilizado em cada dia pelo quadro comunitário anterior num período de tempo semelhante. E são, no total, 60.000 milhões de euros a executar até ao final de 2029.
Tal como quando a cartucheira está cheia e somos displicentes nos tiros que damos, também aqui devemos estar avisados para este momento decisivo de encontro com o crescimento, a competitividade e a inovação.
Sabemos que o PRR não tem o perfil de apoio às empresas que todos gostaríamos. Afinal são as empresas que geram riqueza e emprego no País. Mas a tentação de centralização e de estatização do incentivo publico é demasiado grande e o calendário apertado de execução legitima a proximidade e o domínio que o Governo reclama. Mas a diferença clara é que, com maior ou menor pendor empresarial, a bazuca tem que servir para criar novas condições de competitividade e inovação e não para substituir despesa pública nas contas apertadas do orçamento de Estado.
O novo quadro plurianual, cujo acordo de parceria foi assinado recentemente, é portador de muitas expectativas para um impulso mais forte ao investimento das empresas e das Organizações. Aqui não podemos falhar!
Se o PRR pode e deve criar dinâmicas e contextos capazes de melhorar o ambiente de fomento do empreendedorismo e da actividade empresarial, o P2030 tem que ser o instrumento de estímulo ao investimento privado que permita robustecer e capacitar um tecido empresarial fortemente fragilizado pela pandemia.
Rumo a níveis de competitividade, conhecimento e criação de valor capazes de nos aproximarem de uma Europa que aposta forte na diferenciação positiva das suas empresas e dos seus principais clusters.
Por tudo isto esta é uma hora decisiva. Um tiro certeiro é algo que não nos pode escapar para que possamos abater os estigmas da crise e avançar decisivamente na conquista do futuro.