O sector têxtil, a sustentabilidade e a pandemia
T58 - Novembro 2020

Alexandra Araújo Pinho

Vogal da Direção da ATP
É

sabido que o sector pelo qual temos tanto carinho, o sector têxtil, há muitos anos que se encontra debaixo de fogo no que concerne ao impacto ambiental que causa. De facto, se considerarmos os dados disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), são desperdiçadas cerca de 200 mil toneladas de artigos têxteis por ano, o que nos coloca no segundo lugar das indústrias mais poluentes. Estes números não só soam, como são realmente assustadores, desafiando a nossa indústria a paulatinamente deixar de extrair matéria-prima e cada vez mais reciclar os despojos que já existem.

Em Portugal trabalhamos essencialmente para as marcas globais, as quais produzem os seus produtos em todos os continentes, por conseguinte uma das maiores preocupações atuais prende-se com a redução da pegada ecológica. A guerra é antiga, mas as batalhas são diárias, bifurcadas entre o custo final e a preservação do ambiente. O titubeio das marcas é gritante face à fatura de ter um artigo mais sustentável e que tantas e tantas vezes se traduz num braço de ferro entre equipas de design e departamentos financeiros. E o vencedor deste duelo? Pois bem, quase sempre o preço.

Pesa embora esta eterna contenda, a progressiva e incessante preocupação do impacto ambiental no nosso planeta dos materiais utilizados, de toda a cadeia produtiva e deste incessante escrutínio à nossa indústria, roupou-nos de uma capacidade de resposta não só diferenciadora como também eficaz.

O nosso país faz parte de uma espécie de quadro de excelência no que diz respeito a uma produção responsável e sustentável. Somos um exemplo na redução da pegada ecológica na produção dos nossos artigos têxteis.  A adoção de políticas sustentáveis, já não se confina ao pilar ambiental, como acabou por se estender ao pilar económico e social.

Nos dias que correm, há uma pergunta que nos assola e que não quer calar: Terá esta pandemia, que parou a economia mundial, relegado a sustentabilidade para segundo plano, priorizando a procura de soluções céleres?

Não! Definitivamente não! De uma obrigação à solução! A pandemia acabou por colocar a sustentabilidade em primeiro plano. A elevada procura e escassez dos artigos ao nível dos EPI´s habituais, descartáveis – os ditos não sustentáveis – conduziu a que mais uma vez o nosso sector se reinventasse, e a solução passou pela sustentabilidade. De artigos de utilização única, com elevada carga ambiental ao nível dos desperdícios, para artigos com uma “vida” útil mais alargada, que permitem reutilizações, acionando uma cadeia de valor mais competitiva e eco-friendly.

Todos nós temos hoje mais do que ontem consciência que o “barato sai caro”, quer nas repercussões económicas quer nas ambientais, fruto das nossas escolhas.  A nossa indústria veio relançar a forma como o consumidor vê o produto sustentável, não na perspetiva de ser mais caro, mas na perspetiva de ser a solução atual que protege as gerações futuras.

Nestas teias de incerteza e expectativa não nos é fácil tecer o futuro, mas como diz o nosso poeta: “O mercado quer, a indústria sonha e a obra nasce”.

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