O que vestimos nos mundos virtuais?
T73 - Junho 2022

Marta Oliveira

Managing Director DDIGITT
S

e a indústria da moda tem sido lenta na adoção de novas formas de produção, afirma-se uma das pioneiras na entrada nos mundos virtuais. A moda é, por definição, expressão de identidade. O multiverso que cresce vive de experimentação, o que faz com que a moda esteja a testar aceleradamente as dinâmicas emergentes e todo o potencial de diferentes manifestações de personalidade.

Um casaco não precisa de existir fisicamente para ser vestido. Isso significa que pode não ser feito de algodão ou outra matéria, mas sim de pixéis. E, para além de usado num avatar, pode vestir um corpo humano. Não faltam exemplos, como o provador virtual da Farfetch no Snapchat, onde o utilizador fotografa-se com peças virtuais. 

Esta nova economia digital e de criadores tem sido potenciada pela blockchain, um tipo de base de dados encriptada distribuída que guarda um registro de transações permanente e à prova de violação. Com as criptomoedas, o espaço para o crescimento é vasto. 

Com este contexto, a digitalização da moda é uma área em profunda aceleração. Desenvolver uma coleção 3D abre inúmeras possibilidades. Pode dar poder de personalização ao consumidor, customizando a sua peça, para além de permitir um grande realismo de visualização 360º ou uma experiência de realidade aumentada no e-commerce. Possibilita a produção on-demand, muito mais sustentável do ponto de vista operacional e ambiental. E permite a escalabilidade do produto para realidades imersivas.

Uma coleção 3D pode ser trabalhada a partir de um produto físico, criando a sua versão digital, mas podemos também considerar o desenvolvimento de amostras virtuais, com poupança de recursos físicos ou sessões fotográficas, e testando-se antecipadamente a reação à coleção. 

 

Várias indústrias já o adotaram há muito tempo, e agora a moda está a capitalizá-lo dia após dia. O 3D melhora, portanto, o design e a produção, mas também as vendas. Uma animação 3D tem a capacidade de explorar a criatividade sem limites temporais e espaciais, com visuais impressionantes.

Alguns marcos mostram esta caminhada que ganha confiança. Em 2019 foi vendido o primeiro vestido digital de alta costura, desenhado pelo estúdio The Fabricant. Em 2020 a marca Hanifa promoveu o primeiro desfile virtual. Em 2021 a Nike adquire o RTFKT, uma startup de cybersneakers. Recentemente, aconteceu a primeira Fashion Week no metaverso Decentraland, onde marcas como Tommy Hilfiger, Dolce & Gabbana e Forever 21 marcaram presença com lojas virtuais. Alguns dados apontam que, num futuro não muito distante, 10 a 15% do nosso armário tornar-se-á digital. Movimento que já se vê no gaming, com o comércio in-game de skins a crescer vertiginosamente. Só o Roblox atingiu os 202 milhões de utilizadores ativos por mês, o que mostra a dimensão da audiência.

Talvez mais do que perguntar o que mudará daqui a cinco anos, importe perguntar: o que se manterá? Num estudo da Wunderman Thompson, 83% dos consumidores globais acreditam que a tecnologia une as pessoas. Como construir uma melhor base que combata muitos dos problemas já existentes e que melhore a vida real? O desejo de pertença, de maior inclusão e sustentabilidade cresce. E esta transformação digital abre janelas de maior conexão, avenidas de novas possibilidades para o criador que existe em cada um de nós.

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