O PRR e as empresas
T66- Outubro 2021

Mário Vidal Genésio

Engenheiro
É

sabido que o PRR – Plano de Recuperação e Resiliência está muito orientado para a administração pública. Aqui ficará a parte de leão do dinheiro, com quase 12 dos 16 mil milhões de euros. No entanto, nesta componente também as empresas poderão capitalizar os produtos e serviços que conseguirem fornecer ao setor público. 

Este é um primeiro nível de interesse para o tecido económico privado português: devem ser competitivas e inovadoras nos seus produtos e serviços de modo a poderem ser escolhidas nos concursos a serem lançados, seja em infraestruturas com 760 milhões, onde voltam por exemplo estradas, particularmente acessos às autoestradas existentes, edifícios para a área da saúde, eficiência energética, etc. 

Regressa, ainda, o investimento de quase 400 milhões de euros na gestão hídrica, particularmente relevante quer para abastecimento das populações, quer para a agricultura. Também os investimentos em energias renováveis estão privilegiados, nomeadamente a produção e a rede de distribuição de hidrogénio. O pacote de investimentos na digitalização da administração pública, com 580 milhões de euros, abre igualmente boas perspetivas.

Diretamente para o apoio ao desenvolvimento das empresas haverá 5 mil milhões de euros. Cerca de 1550 milhões serão para a capitalização das empresas, particularmente a partir do Banco Português de Fomento. Este montante será necessariamente reforçado com outros mecanismos do próximo Programa 2030, pelo que se espera que haja muito mais dinheiro para esta componente essencial para a vida das empresas. Há ainda mais de 1350 milhões de euros para apoiar a Inovação nas empresas e a sua aproximação às universidades, aos politécnicos e aos centros tecnológicos, com ações estruturantes e integradoras de estratégias comuns. 

Com os mais de 700 milhões de euros para a descarbonização das empresas, pretende-se a substituição da utilização de combustíveis fósseis pelas energias renováveis, pela eficiência energética, adotando a economia circular e a bioeconomia, diminuindo a pegada ecológica do tecido empresarial, renovando os processos produtivos, abrindo as portas a novos negócios, num país com tanta floresta e com uma zona marítima de utilização exclusiva ainda tão pouco explorada. 

Também para as empresas existe um montante apreciável de investimentos na transição digital, particularmente para a utilização da internet das coisas e da computação na cloud, em que tudo está ligado em redes de dados de alta velocidade, quer cada máquina de cada fábrica, quer qualquer telemóvel, banalizando a realidade virtual e finalmente caminhando para a utilização da inteligência artificial nas nossas empresas. 

Dentro das grandes áreas de intervenção do PRR está a Qualificação dos Recursos Humanos, com 630 milhões de euros, outro estrangulamento da economia, sabendo-se da grande falta de trabalhadores, especialmente qualificados, ou que possam ser requalificados para os novos desafios que as empresas enfrentam.

Está claro que o PRR será muito bem-vindo, há grandes expetativas na sua execução, estando já abertos diversos concursos e muitos outros em lançamento. Não resolverá todos os problemas, mas será uma muito boa ajuda, se as empresas souberem aproveitar todas as oportunidades postas à sua disposição.

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