O Norte vale mais!
T18 Março 2017

Paulo Cunha

Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
A

leitura e análise das estatísticas locais, regionais e nacionais, deveria ser uma disciplina obrigatória no dia-a-dia do Governo. Os números são o que são, refletindo a realidade pura e dura, que nenhuma Administração Central deveria desconhecer e, muito menos, ignorar.

Vem esta introdução a propósito dos anuários estatísticos publicados no final de 2016 pelo Instituto Nacional de Estatística. Através dos números refletidos ficamos a saber que, em 2015, a Região Norte de Portugal assegurou 40% das exportações. Importa simultaneamente observar que ao nível da balança comercial, o Norte acabou o mesmo ano com uma balança comercial positiva de 2,2%, enquanto o país registou um défice de cerca de 10 mil milhões, menos 3,5% em relação ao ano anterior, sendo este um dos mais elevados registos negativos entre os países da Zona Euro.

Se juntarmos a estes dados, por si só esclarecedores, o número de empresas existentes na região Norte e a qualidade e inovação com que se produz – o sector têxtil é bem elucidativo da capacidade de resiliência, de inovação e de empreendedorismo da região – torna-se difícil perceber como o Norte se mantém como a região mais pobre de Portugal e como uma das mais pobres da Europa.
Isto demonstra com uma evidência desarmante que os governos nacionais não estão a olhar para a região como ela merece, o que é um erro tremendo. É sabido que riqueza gera riqueza e, como tal, a priorização estratégica dos orçamentos nacionais deveria ter sempre em linha de conta esta base de conhecimento, de forma a potenciar o desenvolvimento a partir de quem é mais capaz de o gerar. São os mais fortes que têm força suficiente para puxarem pelo país, da mesma forma que uma só locomotiva puxa todo o comboio.

Por isso, a aposta no Norte não é apenas uma questão de justiça, se bem que este aspeto não deixe de ser importante. É sobretudo uma estratégia que se impõe para que seja potenciado todo o desenvolvimento nacional. No fundo, trata-se de apostar naquilo que é trunfo, jogada reconhecidamente inteligente, qualquer que seja o agente ou o contexto.

Veja-se o caso do estrangulamento da Estrada Nacional 14, no eixo Maia-Trofa- Famalicão. A via serve uma das zonas mais produtivas do país – só os três municípios asseguram juntos, qualquer coisa como 20% do total do valor exportado pelo Norte – e há muitos anos que se apresenta como um claro entrave ao desenvolvimento empresarial da região. Apesar disso, a criação de uma alternativa viária que assegure as necessidades das empresas tem sido adiada ano após ano, existindo hoje uma descrença e desconfiança absoluta dos empresários em relação a esta matéria.

Os empresários do têxtil deram uma verdadeira lição ao país. Contornaram uma morte precocemente anunciada e mostraram como se faz. É preciso apostar naquilo que tem mais valor, na racionalização dos procedimentos, na modernização e na inovação. É isso que o país tem que fazer: olhar para onde são desenvolvidos estes predicados e apostar aí, mais do que em qualquer outro lugar. O Norte merece mais porque vale mais.

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